sábado, 21 de setembro de 2013

Presença dos Anjos nas batalhas





 Uma das referências mais comuns sobre batalhas angélicas está no Apocalipse de São João, pois foi esta a primeira e grande batalha dos Anjos contra os demônios: “Houve no céu uma grande batalha: Miguel e os seus anjos pelejavam contra o dragão, e o dragão com os seus anjos pelejava contra ele; porém estes não prevaleceram, nem o seu lugar se encontrou mais no céu. Foi precipitado aquele grande dragão, aquela antiga serpente, que se chama demônio e satanás, que seduz todo o mundo, foi precipitado na terra, e foram precipitados com ele os seus anjos” (Apoc. 12, 7-10).
Que pretendia concretamente Lúcifer nesta guerra? Provavelmente, com sua arrogância, queria permanecer na posse do trono celeste em que fora criado por Deus, daí São João afirmar que “nem o seu lugar se encontrou mais no céu”. Quer dizer, por causa da revolta, perdeu “o seu lugar”, o trono que Deus lhes destinara para reinar eternamente. Se supormos, numa hipótese absurda, que Lúcifer tivesse prevalecido, os planos de Deus estariam enormemente prejudicados, pois teriam ficado com todo poder aqueles anjos que haviam se declarado em estado de revolta contra o Criador. Daí a importância de São Miguel em expulsá-los de lá.
Diz-se que durante a referida batalha angélica, por estarem envolvidos nela, foi a única vez em que os Anjos deixaram de louvar a Deus, enquanto louvor simplesmente, porque no momento em que disseram “Quem como Deus” e partiram para defender a Glória divina, mesmo estando numa batalha, davam implicitamente seus louvores. Pois louvar é o mesmo que glorificar, e no momento em que se luta em defesa da glória se está também dando louvores. 
Podemos comparar este episódio com aquele em que Deus expulsou Adão e Eva do Paraíso, visando assim evitar que eles por acaso comessem do fruto da “árvore da vida” (Gên 3, 24) e vivessem eternamente. Seria insuportável a vida na terra em que convivessem eternamente homens bons com homens maus. Da mesma forma, o céu não seria Céu se convivessem anjos maus com Anjos Bons.
Depois da batalha celeste, os Santos Anjos vivem empenhados nas batalhas terrestres, amparando os bons e punindo os maus. No Antigo Testamento é comum as passagens em que os Anjos vêm em socorro do povo eleito nas constantes guerras que moviam contra as nações pagãs que os invadiam e os cercavam. Transformaram-se, pois, em guerreiros do exército do Senhor. Por esta razão Deus é sempre cognominado no Antigo Testamento como “Deus dos Exércitos” ou o “Senhor dos Exércitos”, quer dizer, exércitos não só celestes mas terrestres também.
O exemplo mais completo do ministério angélico, tanto como executores da liturgia divina quanto como guerreiros, encontramos no Profeta Isaías, que viu os Santos Anjos clamando honras e glórias a Deus: “Santo, Santo, Santo é o senhor Deus dos exércitos...” (Is 6, 3). Os profetas sempre tinham suas visões de Deus cercado com “exércitos de Anjos”, como Miquéias (I Reis 22, 19), Oséias (Os 12, 5), Amós (3, 13), etc., onde se diz sempre “Deus dos exércitos”.
Quando Moisés começou a peregrinação no deserto, o Anjo do Senhor já o avisava da proteção divina que lhe daria nas guerras:
“Levantai-vos, e passai a torrente de Arnon; eis que te entreguei nas mãos Seon, rei de Hesebon, amorreu; começa a possuir a sua terra e peleja contra ele. Hoje começarei a pôr o terror e medo das tuas armas nos povos, que habitam debaixo de todo o céu, para que, ao ouvir o teu nome, temam, e à maneira das mulheres que estão para dar à luz, sintam as dores”  (Deut 2, 24-25).  Após atacar e destruir a cidade conforme ordenara o Anjo, Moisés conclui: “E o Senhor, nosso Deus, no-las entregou e nós o derrotamos com seus filhos e todo o seu povo”  (Deut 2, 33), confirmando então que as vitórias alcançadas foram obra e graça de Deus por intermédio de Seus Santos Anjos.
O mesmo ocorreu, por exemplo, quando foi vencido o gigante rei Og, de Basan: “O Senhor, nosso Deus, entregou, pois, nas nossas mãos também Og, rei de Basan, e todo o seu povo, ferimo-lo até o extermínio, devastando ao mesmo tempo todas as suas cidades; não houve cidade que nos escapasse; sessenta cidades, todo o país de Argob pertencente ao reino de Og em Basan. Todas as cidades estavam fortificadas com muros altíssimos, com portas e trancas, além das inumeráveis povoações que não tinham muros. Destruímo-los, como tínhamos feito a Seon, rei de Hesebon, destruindo as cidades, os homens, as mulheres, e as crianças; (Deut 3, 3-7)
A intervenção guerreira dos Anjos é prometida também para exterminar os sete povos que ainda vinham pela frente: “Quando o Senhor, teu Deus, te tiver introduzido na terra, de que vais tomar posse, e tiver exterminado diante de ti muitas nações, o heteu, o gergeseu, o amorreu, o cananeu, o ferezeu, o heveu e o jabuseu; sete nações muito mais numerosas e mais fortes do que tu, e o Senhor teu Deus tas tiver entregado, tu as combaterás até o extermínio” (Deut 7, 1-2). O Anjo chega a dizer como fará para eliminar determinado povo: “Além disso, o Senhor teu Deus mandará vespas contra eles, até destruir e exterminar todos os que tiverem fugido ou tiverem podido esconder-se” (Deut 7, 20).
E para que fique bem claro que aqueles povos foram exterminados pelos Anjos, coadjuvando a ação guerreira de Moisés, foi dito a Moisés: “Não os temerás, porque o Senhor teu Deus está no meio de ti, Deus grande e terrível. Ele mesmo destruirá estas nações diante de ti pouco a pouco, e por partes. Tu não as poderás destruir a um tempo, a fim de que se não multipliquem contra ti as feras da terra. E o Senhor teu Deus os dará em teu poder, e os fará morrer até que todos sejam destruídos. (Deut 7, 21-23). O motivo é este: “Depois que o Senhor teu Deus os tiver exterminado diante de ti, não digas no teu coração: por causa da minha justiça é que o Senhor me introduziu nesta terra para a possuir, tendo sido estas nações destruídas por causa das suas impiedades”  (Deut 9, 4).
A partir daquele momento, tornou-se comum o povo eleito recorrer ao socorro angélico para se safar de seus inimigos, pois a promessa de ajuda foi solene: “Se sairdes do vosso país para fazer guerra contra os inimigos que vos atacam, fareis soar interrompidamente as trombetas, e o Senhor vosso Deus se lembrará de vós, para vos livrar das mãos de vossos inimigos. (Num 10, 9).

Josué
Ao suceder Moisés na condução do povo hebreu pela Palestina, Josué teve de enfrentar várias batalhas onde foi marcante a ação angélica. Certa feita, estando a rezar, viu perto dele um homem armado com uma espada. Foi logo ao seu encontro, decidido para a luta e perguntou: “Tu és dos nossos, ou dos inimigos?”  O Anjo, então, lhe responde que era o príncipe dos exércitos do Senhor. Josué, prontamente, prostrou-se com o rosto em terra e perguntou-lhe o que queria dizer o Anjo a ele. O Anjo, que deveria ser São Miguel, manda-lhe tirar o calçado dos pés, porque aquele lugar era santo. Josué prontamente lhe obedece.
Uma das principais intervenções angélicas no campo de batalha foi quando Josué derrotou cinco reis amorreus em Gabaão, cujo desfecho é assim narrado pela Sagrada Escritura:
“Josué, pois, tendo marchado toda a noite desde Gálgala, deu de repente sobre eles; e o Senhor os desbaratou à vista de Israel, o qual infligiu-lhes uma grande derrota junto a Gabaão, e foi os seguindo pelo caminho que sobe de Bet-horon, dando neles até Azeca e Maceda. Enquanto eles fugiam dos filhos de Israel e estavam na descida de Bet-horon, fez o Senhor cair do céu grandes pedras em cima deles até Azeca, e morreram muitos, mais pelas pedras de granizo, do que pelos golpes da espada dos filhos de Israel”  (Josué 10, 9-11).  
Como Jericó era uma cidade muito bem defendida, tornando difícil sua conquista pelos hebreus, o Anjo lhe diz que havia de lhe entregar a posse daquela cidade, bastando que cumprisse suas recomendações: “Dai volta à cidade, vós todos os homens de guerra, uma vez por dia; assim fareis durante seis dias. E no sétimo dia os sacerdotes tomem as sete trombetas, de que se usa no jubileu, e vão adiante da arca da aliança; e rodeareis sete vezes a cidade, e os sacerdotes tocarão as trombetas. E, quando o som das trombetas se fizer ouvir mais demorado e penetrante, e vos ferir os ouvidos, todo o povo à uma levantará um grande clamor, e cairão os muros da cidade até aos fundamentos, e cada um entrará por aquele lugar que lhe ficar defronte”.
E assim foi feito. E quando o “som das trombetas se fez ouvir mais demorado e penetrante”, por intervenção angélica, todo o povo se pôs a gritar e avançar em direção à cidade, e de repente caíram os muros e por suas brechas entrou o exército de Josué e dominou Jericó.. (Josué 5, 13-20).

Gedeão
Gedeão, um dos juizes de Israel, estava em sua casa quando um Anjo lhe apareceu e o escolheu para comandar os exércitos de seu povo contra os madianitas:
“Veio pois o Anjo do Senhor, e assentou-se debaixo dum carvalho, que havia em Efra, e pertencia a Joás pai de Ezri. E estando Gedeão seu filho sacudindo e alimpando o seu trigo no lagar, para o esconder dos madianitas, lhe apareceu o Anjo do Senhor, e disse: o Senhor é contigo, o homem mais valente de todos. E Gedeão lhe disse: Se o Senhor é conosco, peço-te, Senhor meu, que me digas, por que caíram sobre nós todos os males? Onde estão aquelas suas maravilhas, que nossos pais nos têm contado, dizendo: O Senhor nos tirou do Egito? Mas agora nos tem o Senhor desamparado, e nos entregou nas mãos dos madianitas. E o Senhor [quer dizer, o Anjo], olhou para ele, e lhe disse: Vai nessa tua fortaleza, e livrarás Israel do poder dos madianitas: sabe que eu sou quem te manda. Gedeão lhe replicou: Dize-me, te peço, meu Senhor, como poderei eu livrar a Israel? Tu sabes que a minha família é a última de Manassés, e que eu sou o último da casa de meu pai. E o Senhor lhe respondeu: Eu serei contigo: e tu derrotarás os madianitas, como se fossem um só homem. E prosseguiu Gedeão: Se eu achei graça diante de ti, dá-me um sinal por onde conheça que tu és quem me fala. E não te vás daqui, a menos que eu não volte trazendo um sacrifício, para to oferecer. E ele lhe respondeu: Eu esperarei até que voltes.” (Juízes 6, 11-18).
Gedeão entrou em casa e voltou com um cabrito cozido, farinha e pães para oferecer ao Anjo. Mas este Anjo, diferente dos que acompanharam Abraão e Lot que “consumiram” os alimentos, mandou colocar tudo em cima de uma pedra, pegou uma vara e a estendeu tocando sobre o que estava na pedra. No mesmo instante, saiu fogo e fez tudo desaparecer aos olhos de Gedeão, confirmando-o mais ainda que estava na presença de um Anjo. Em seguida o Anjo ordena a Gedeão que fosse destruir o altar de Baal pertencente ao pai dele.
Quando, finalmente, Gedeão foi eleito pelo povo como comandante do exército de Israel, contando este com milhares de soldados, mandou o Anjo fazer expurgos entre os homens: primeiro foram excluídos os medrosos e os tímidos, cerca de 22 mil; depois foi feito um teste para ver como os soldados bebiam da água, restando com Gedeão apenas 300. Foi com estes 300 homens que Gedeão venceu o exército madianita, composto de milhares de soldados. A intervenção angélica, na batalha, deu-se da seguinte forma:
“E dividiu os seus trezentos homens, em três batalhões, e deu a cada um sua trombeta, e sua bilha vazia com sua lanterna no meio da bilha. E disse-lhes: Fazei o mesmo que me virdes fazer: eu entrarei por um lado do campo, e segui o que eu fizer. Quando soar a trombeta que tenho na minha mão, tocai vós também as vossas ao redor do campo, e clamai de chusma, ao Senhor, e a Gedeão. E entrou Gedeão e os trezentos homens que acompanhavam por um lado do campo, ao princípio da vigília da meia-noite, e despertadas as sentinelas, começaram a tocar as trombetas, e a quebrar as bilhas, umas nas outras. E tocando em três locais distintos ao redor do campo, logo que quebraram as bilhas, tomaram as luzes na mão esquerda, e tocando as trombetas com a direita gritaram: A espada do Senhor e de Gedeão! Conservando-se cada um no seu posto ao redor do campo inimigo. Imediatamente todo o campo dos madianitas se pôs em desordem, e dando grandes gritos, e urros fugiram: e com tudo isso insistiram os trezentos homens tocando trombetas. E o Senhor enviou a espada em todo o campo, e eles se mataram uns aos outros, fugindo até Betseda, e até o termo de Abelmehula em Tebat” (Juízes 7, 16-23. Nesta batalha, pela intervenção angélica, foram mortos milhares de inimigos de Deus.

Davi
Quando Davi foi ungido como rei do povo hebreu os filisteus haviam se tornado seus maiores inimigos, tendo o rei que marchar contra eles. Note-se que na Escritura Sagrada quando um justo se dirige a Deus é sempre através de um Anjo, como já se viu acima, o qual é chamado de Senhor:
“Davi consultou o Senhor, dizendo: Marcharei contra os filisteus e entregá-los-ás tu nas minhas mãos? O Senhor respondeu a Davi: Vai, que eu entregarei e porei os filisteus nas tuas mãos”.
Mas, vencidos nesta batalha, os filisteus voltam a atacar.  Pela segunda vez Davi consulta o Anjo, o qual lhe responde:
“Não vás direito a eles, mas dá volta por detrás deles, e irás contra eles por defronte das pereiras. E quando ouvires o rumor dum que anda por cima das pereiras, então travarás a batalha; porque o Senhor marchará então diante de ti, para ferir o acampamento dos filisteus. Fez, pois, Davi como o Senhor lhe tinha mandado, e derrotou os filisteus desde Gabaa até chegar a Gezer”.
A presença angélica se fez notar tanto no rumor produzido nas pereiras, quanto no acampamento inimigo “ferido”  pelo Senhor.

Profeta Eliseu
No tempo do Profeta Eliseu o reino de Samaria foi atacado pelos sírios, tendo os Anjos protegido os hebreus da seguinte forma:
“Ora estavam quatro homens leprosos à entrada da porta, os quais disseram entre si: Para que nós estamos aqui até morrermos? Se quisermos entrar na cidade, morreremos de fome; se ficarmos aqui, morreremos também; vamo-nos, pois, e passemo-nos para o acampamento dos sírios. Se eles se compadecerem de nós, viveremos; e, se nos quiserem matar, sem dúvida morreremos.
“Partiram, pois, à tarde, para ir ao acampamento dos sírios. E, tendo chegado à entrada do acampamento dos sírios, não encontraram ali ninguém. Porque o Senhor tinha feito ouvir no acampamento dos sírios um estrondo de carroças, de cavalos e dum exército muito numeroso.  Os sírios disseram entre si: Sem dúvida que o rei de Israel mandou assoldadar contra nós os reis dos heteus e dos egípcios, e ei-los aí vem sobre nós. Levantaram-se, pois, e fugiram de noite; deixaram no acampamento as suas tendas, os seus cavalos e jumentos e fugiram cuidando somente salvar as vidas” (IV Reis 7, 3-7).  

Judas Macabeu
Vejam o que diz um dos discursos inflamados de Judas Macabeu: “Eles, dizia-lhes, somente confiam nas suas armas e na sua audácia; porém nós confiamos em Deus Todo-Poderoso, capaz de destruir com um gesto não só os que vêm para nos atacar mas ainda o mundo inteiro. Lembrou-lhes também o socorro dado por Deus a seus pais, como (por exemplo) quando do exército de Senaquerib tinham perecido cento e oitenta e cinco mil homens; recordou a batalha travada contra os gálatas, em Babilônia, com tal felicidade que, não tendo ousado entrar em ação os macedônios, seus aliados, eles, que ao todo só eram seis mil, mataram cento e vinte mil homens, por causa do socorro recebido do céu, alcançando por isso enormes vantagens (II Macabeus 8, 18-20).     
Numa das guerras de Judas Macabeu apareceram no céu cinco Anjos em sua ajuda.:
Aos primeiros alvores do dia, travaram batalha os dois exércitos, tendo uns, além da sua coragem, o Senhor por garantia da vitória e bom êxito das suas armas, e indo outros ao combate movidos apenas pela sua fogosidade. No maior ardor da peleja apareceram do céu aos inimigos cinco homens resplandecentes, sobre cavalos adornados de freios de ouro, que serviam de guias aos judeus. Dois deles, tendo no meio de si Macabeu, cobrindo-o com suas armas, guardavam-no para que andasse sem risco da sua pessoa; lançavam dardos e raios, contra os inimigos, que iam caindo feridos de cegueira e cheios de turbação.  Foram mortos vinte mil e quinhentos homens de pé e seiscentos cavaleiros. (II Macabeus 10, 28-31).
Noutro combate, apenas a presença de um Anjo foi suficiente para levar os soldados de Judas Macabeu à vitória:
“Macabeu foi o primeiro que tomou as armas e exortou os outros a exporem-se com ele ao perigo, para darem socorro a seus irmãos. Quando marchavam todos juntos com ânimo resoluto, apareceu, ainda perto de Jerusalém, um homem a cavalo, que ia adiante deles, vestido de hábitos brancos, com armas de ouro, brandindo uma lança. Então bendisseram todos ao mesmo tempo ao Senhor misericordioso e encheram-se de coragem, prontos a pelejar, não só com os homens, mas também com os animais mais ferozes e a atravessar muros de ferro. Marchavam em ordem de batalha, com este auxiliar vindo do céu, por misericórdia do Senhor. Como leões, lançando-se impetuosamente sobre os seus inimigos, mataram onze mil homens da sua infantaria, mil e seiscentos da cavalaria, e puseram em fuga todos os restantes. A maior parte deles não se puderam salvar, senão feridos e sem armas; até mesmo Lísias só por meio duma vergonhosa fuga escapou”   (II Mac 11, 7-12).      

Exército angélico a serviço de São João Crisóstomo
O grande Santo João Crisóstomo era bispo de Constantinopla e havia recebido autoridade do rel para defender a cidade. Certa feita, um sujeito chamado Gaimás, que tinha sonhos de ser também imperador, urdiu um plano para mandar incendiar o palácio imperial quando suas tropas se ausentassem.  Como não podia executar seu plano à luz do dia, pois logo veriam quem foi o autor, decidiu fazê-lo à noite.
A "Legenda Dourada" conta assim como os anjos defenderam o palácio imperial, que estava sob a responsabilidade de São João Crisóstomo:
"...quando, ao amparo das sombras noturnas, os emissários de Gaimás saíram sigilosamente de seu aquartelamento para incendiar a residência imperial, viram-se obrigados a abandonar seu projeto e a fugir a toda pressa porque inesperadamente se encontraram com inumeráveis anjos perfeitamente apetrechados que patrulhavam pelas ruas. Ao chegar ao seu quartel  e comunicar a seu chefe o que lhes havia sucedido, este, sumamente surpreendido, não sabia como se explicar o estranho fenômeno, posto que estava completamente seguro de que os exércitos imperiais se encontravam de guarnição em outras cidades. À noite seguinte enviou-lhes novamente a perpetrar o malogrado intento; mas também de novo se encontraram com os poderosos esquadrões de anjos que em compactas patrulhas percorriam ruas e praças, ante o que, assustados, novamente fugiram. Em vista deste segundo fracasso, Gaimás decidiu executar por si mesmo seu sinistro plano, e no dia seguinte quando anoiteceu saiu de casa e com seus próprios olhos viu que, com efeito, as ruas estavam cheias de soldados muito bem armados, e à falta de outra explicação suspeitou de que o bispo mantinha ocultas durante o dia aquelas numerosas tropas e que cada noite as tirava de seus aquartelamentos e as distribuía  pelas ruas para que defendessem a cidade. Influído por esta suspeita viajou para a Trácia, percorrendo a região, cujos habitantes tinham fama de cruéis e ferozes, e eram temidos pelas gentes de outras províncias, recrutando um numeroso exército e à frente daqueles homens se decidindo a invadir e arrasar várias zonas do império.  O imperador, para resolver o problema que Gaimás lhe havia criado, nomeou o santíssimo bispo João legado seu e lhe encomendou a espinhosa missão de entrevistar-se com o revoltado.  João, fazendo pouco caso da inimizade que havia entre ele e Gaimás , aceitou o encargo imperial  e, animado pelos melhores desejos de levar a bom termo a difícil embaixada que se lhe  havia confiado, alegre e tranqüilo, empreendeu sua viagem. Gaimás, por sua parte, ao inteirar-se de que o santo bispo vinha confiadamente até ele se impressionou tanto que mudou de sentimentos, trocou sua crueldade por mansidão, saiu a seu encontro percorrendo um largo caminho, e, quando se encontraram, tomou reverentemente a mão de João, a colocou diante de seus olhos e mandou a seus filhos que se ajoelhassem ante o prelado e lhe beijassem os pés. É que João era tão virtuoso que até as pessoas mais temíveis se amansavam em sua presença e sentiam-se interiormente obrigadas a tratá-lo com respeito"[i]

O Anjo Custódio de Portugal defende-o contra os sarracenos
O primeiro rei de Portugal, Dom Afonso Henriques, notabilizou-se não só pelo valor guerreiro e nobre, mas principalmente por uma grande santidade. É assim que o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo lhe aparece para manifestar ao mesmo o desejo de fundar um grande reino através de seus descendentes e pedindo que coloque os símbolos da Paixão no brasão de Portugal.
Dom Afonso Henriques tinha uma grande e entranhada devoção ao Arcanjo São Miguel. Antes do rei haver tido a visão de Nosso Senhor, apareceu-lhe um Embaixador angélico, dizendo-lhe: “Sois amado do Senhor, porque sem dúvida pôs sobre vós, e sobre vossa geração depois de vossos dias, os olhos de sua misericórdia, até a décima sexta descendência, na qual se diminuirá a sucessão, mas nela assim diminuída, Ele tornará a pôr os olhos e verá”. Em seguida, declara o próprio rei: “Obedeci, e prostrado em terra, com muita reverência, venerei o embaixador e Quem o mandava. E como posto em oração, aguardava o som, na segunda vela da noite ouvi a campainha, e armado de espada e rodela saí fora dos reais, e subitamente vi à parte direita, contra o nascente, um raio resplandecente indo-se pouco a pouco clareando, cada hora se fazia maior. E pondo de propósito os olhos para aquela parte, vi de repente, no próprio raio, o sinal da Cruz, mais resplandecente que o sol, e um grupo grande de mancebos resplandecentes, os quais creio que seriam os santos anjos..” O santo rei, chorando maravilhado com a visão, vê finalmente Nosso Senhor, que lhe diz: “Não te apareci deste modo para acrescentar tua fé, mas para fortalecer teu coração neste conflito, e fundar os princípios do teu reino sobre pedra firme. Confia, Afonso, porque não só vencerás esta batalha mas todas as outras em que pelejares contra os inimigos da minha cruz. Acharás tua gente alegre e esforçada para a peleja, e te pedirá que entre na batalha com o título de rei. Não ponhas dúvida, mas tudo quanto te pedirem lhes concede facilmente. Eu sou o fundador e destruidor dos reinos e impérios, e quero em ti e em teus descendentes fundar para Mim um império, por cujo meio seja Meu nome publicado entre nações mais estranhas. E para que teus descendentes conheçam Quem lhes dá o reino, comporás o escudo de tuas armas do preço com que Eu remi o gênero humano, e daquele por que Fui comprado pelos judeus, e ser-Me-á reino santificado, puro na fé e amado da minha piedade”.  Até os dias de hoje permanecem os estigmas da Paixão no escudo da grande nação portuguesa.  
Um episódio demonstra quanto os homens que cercavam o rei Dom Afonso Henriques eram também de grande valor. O rei de Leão, Afonso VII, estava cercando as tropas de Afonso Henriques e a derrota deste parecia iminente. Egas Muniz, que fora educador de Afonso Henriques, vai até Afonso VII e empenha sua palavra de que seu antigo pupilo lhe prestaria obediência. Confiando na promessa do nobre português, o rei de Leão levanta o cerco. Como Dom Afonso Henriques não cumpriu a palavra, que aliás não dera, Egas Muniz vai até junto do rei de Leão, acompanhado da mulher e filhos, em traje de penitente, pedindo que o mesmo lhe castigue por não se ter cumprido o que prometera. E o castigo, Egas Moniz o sabia, poderia ser a pena de morte. Admirado com tal grandeza de alma, o rei manda de volta e em paz o fidalgo português.
Dom Afonso Henriques continua suas conquistas, principalmente contra os mouros.  Em 1147 domina Santarém, que era um grande baluarte islâmico. Algum tempo depois, sob o comando pessoal de Al-Baraque, rei de Sevilha, Santarém é sitiada. O santo rei vê-se impotente para liderar a defesa dos cristãos pois estava ferido numa perna e sem poder montar a cavalo. Mesmo assim, arrisca-se e vai lutar pela defesa de seus homens em Santarém. Quando se encontrava no meio dos combates, Dom Afonso Henriques vê, junto de si, um braço levantado brandindo uma espada. Percebe claramente que um Anjo do Senhor estava a seu lado para protegê-lo.
Quando os combates estavam em sua fase mais renhida e sangrenta, o braço angélico começou a desferir mortais golpes contra os mouros, os quais fugiam aterrorizados e deixavam o campo de batalha à mercê dos soldados cristãos. Os próprios soldados agarenos, presos durante a batalha, confessaram ter visto o braço angélico armado com a espada a lhes deferir mortais golpes.
Como prova de gratidão por tão insigne favor divino, Dom Afonso Henriques fundou a Ordem militar com o nome de “São Miguel da Ala” (a palavra “ala”  é aplicada no sentido de “levantada” ou “alada”), em honra daquela intervenção angélica. Seus descendentes estabeleceram o costume de colocar nos seus filhos os nomes dos três Arcanjos, São Miguel, São Gabriel e São Rafael, também em honra desta batalha.

Marechal Tilly, austríaco
Estava o marechal Tilly assistindo a Santa Missa quando vieram dizer-lhe que regressasse depressa ao campo de batalha, pois o inimigo, comandado pelo duque Cristino Brunswick marchava em sua direção. “Meu caro Lindela – responde Tilly – como vê estou assistindo a Missa. Regresse depressa ao campo, ponha as tropas em linha que eu irei para lá assim que a missa termine”.
O barão obedeceu, mas ao chegar ao campo qual não foi a sua surpresa ao verificar que o marechal aparentemente teria mudado de idéia, pois lá ele estava a cavalo no meio das tropas a comandar a resistência do ataque inimigo. No final, foi total e rápida a vitória do exército de Tilly. Terminada a Missa, sem que o marechal tivesse saído da igreja hora nenhuma, monta o mesmo em seu cavalo e vai ao campo de batalha para assumir o comando das tropas. Lá verifica surpreso que a guerra já findara com a vitória de seus homens.
Dirigindo-se ao barão de Lindela, pergunta o marechal a quem se devia aquele glorioso triunfo. Responde o oficial: “A presença de Vossa Excelência animou os soldados. Quando regressei ao campo bem o vi penetrar nas linhas inimigas seguido da nossa cavalaria”.
O Pe. Pierson testemunhou, depois, que o marechal em hora nenhuma havia se afastado da igreja, assistindo a Missa do começo ao fim, enquanto todo o seu exército garantia que Tilly estava naquele mesmo instante comandando seus homens. Assim ficou provado que o Anjo da Guarda do capitão austríaco havia tomado seu lugar no comando enquanto ele assistia contritamente a Santa Missa, costume que ele tinha há vários anos e o fazia diariamente. Tal fato se deu no ano de 1663, sendo comprovado por testemunhas idôneas como o Pe. Gobat e os membros do exército austríaco.

Um soldado medieval
Fernão Antolinez, era um jovem soldado muito valente, mas ao mesmo tempo muito devoto cristão, não costumando entrar em batalha sem antes assistir a Santa Missa. Certa vez estava numa igreja assistindo ao Santo Sacrifício quando ouviu as trombetas tocarem chamando-o para o combate. Como não quis abandonar a Missa pelo meio, resolveu ficar até o final e ir ao combate depois. Ao sair da Missa, ficou com receio de que seus companheiros o chamassem de covarde e foi para casa se esconder, temendo também algum castigo por causa de sua deserção.
Chegando a sua casa, no entanto, viu vários soldados, camaradas seus, virem a seu encontro para lhe dar os parabéns pela valentia com que havia batalhado sempre nas primeiras fileiras. Com espanto seu, soube o rapaz que alguém o havia substituído, apresentando a sua figura e fisionomia e combatendo com tal esforço e coragem que lhe foi atribuída em grande parte a vitória alcançada no campo de batalha. Explicando que havia ficado na igreja assistindo a Missa, ficou patente para todos que o jovem que o havia substituído na guerra havia sido o seu Anjo da Guarda.   




[i] "La Leyenda Dorada" - de Santiago de Vorágine - vol. 2 - pág. 593 - Alianza Foama - Madrid.

Nenhum comentário: