sexta-feira, 28 de julho de 2017

O APOCALIPSE DE SÃO JOÃO FALA DOS DIAS ATUAIS



PROFECIAS SOBRE SITUAÇAO DA IGREJA NOS TEMPOS MODERNOS

Revelações do Bem-Aventurado Bartolomeu Holzhauser

O padre Bartolomeu Holzhauser faleceu em 1658, aos 45 anos de idade. Era natural da cidade de Augsbourg e foi pároco de Titmoningen, na Alemanha, onde adquiriu fama de reformador do clero e por seus comentários sobre o Apocalipse.
Seus comentários (que o mesmo afirmou ter sido inspirados por um Anjo que guiava sua mão ao escrevê-los), divide a História da Igreja em sete períodos, representados pelas sete cartas dos capítulos II e III do Apocalipse que São João dirige para sete cidades ou igrejas orientais: Éfeso, Smirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laudicéia. Em 1640, o Papa Inocêncio XI dá a palavra da Igreja e aprova tais comentários.
O primeiro período da Igreja, representado por Éfeso, foi o período Apostólico, que vai de Nosso Senhor Jesus Cristo e os Apóstolos até o império de Nero (68 d.C.); o segundo período, representado por Smirna, vai de Nero até Diocleciano (ano 305); o terceiro período, representado por Pérgamo, é o período dos Padre da Igreja e Doutores, que começa com o Papa São Silvestre  e o Imperador  Constantino e dura até Carlos Magno e São Leão II (ano de 814); o quarto período, representado por Tiatira, é o período medieval, que vai de Carlos Magnos e São Leão II até Carlos V e o Papa Leão X (por volta de 1520); o quinto período da Igreja, representado por Sardes, é o período em que vivemos: começou com Carlos V e o Papa Leão X e vai terminar com a vinda do Pontífice Santo e o Poderoso Monarca. Assim o descreve o Venerável Holzhauser:

Quinto período da Igreja, predomina a Revolução

"Este é o  período de aflição, de desolação, de humilhação e de pobreza para a Igreja e pode ser chamado com razão um período purgativo. Pois é neste período que Jesus Cristo terá depurado e depurará seu trigo por meio de guerras cruéis, por rendições, pela fome e pela peste, e por outras calamidades horríveis, afligindo e empobrecendo a Igreja latina por meio de muitas heresias e também pelos maus cristãos, que lhe arrancarão uma grande número de bispos e mosteiros. A Igreja se verá oprimida e empobrecida pelas imposições e vexações dos príncipes católicos, de tal sorte que é com razão que podemos gemer então e dizer com o Profeta Jeremias em suas lamentações: "A Rainha das cidades é tributária (Lam. 1,1)".
"Enfim, este quinto período da Igreja é um período de aflição e de exterminação, um período de defecção repleto de calamidades. Pois restarão poucos cristãos sobre a Terra que terão sido poupados pelo ferro, a fome ou a peste. Reinos combaterão e as monarquias serão agitadas violentamente, e haverá um empobrecimento quase geral e uma grande desolação no mundo. Estes males já cumprem, em grande parte, e se  cumprirão ainda.
“Deus lhes permitirá por um muito julgamento por causa da imensidade e auge dos nossos pecados, que nós e nossos pais cometeram nos tempos de sua liberdade.
"A Igreja de Sardes é o símbolo deste quinto período, pois a palavra Sarde significa "principe de beauté" (começo de beleza), quer dizer, princípio da perfeição que virá no sexto período.
"Com efeito, as tribulações, a pobreza e as outras adversidades são o começo e a causa da conversão dos homens, como o temor do Senhor é o começo da Sabedoria. Então, nós temeremos a Deus e abriremos os olhos, enquanto as águas e as ondas de tribulações nos assaltam. Ao contrário, durante o tempo em que estamos na felicidade, cada um sob sua figueira, em sua vinha, à sombra das honras, na riqueza e no repouso, nós nos esquecemos de Deus Nosso Criador e pecamos com toda segurança!
"...A este período se reporta também o quinto espírito do Senhor, que é o Espírito do Conselho.  Pois Ele se serve deste Espírito para debelar as calamidades ou para impedir enormes males. Ele se serve também do Espírito do Conselho para conservar o bem e para procurar um bem ainda maior.
"Ora, a Divina Sabedoria comunica o Espírito do Conselho à Sua Igreja principalmente neste quinto período:
l.  Afligindo-A para que Ela não se corrompa inteiramente pelas riquezas.
2. Interpondo o Concílio de Trento como uma luz em meio às trevas, a fim de que os católicos que vejam sustentem o que devem crer em meio à confusão de tantas seitas que o heresiarca Lutero espalhou pelo mundo.
3. Opondo-se diametralmente a esse heresiarca e à massa dos ímpios deste período, Santo Inácio e sua Companhia que, por seu zelo, sua santidade e sua doutrina, impedem que a Fé católica se apague inteiramente na Europa.
4. Por seu sábio conselho, Deus fez então com que a Fé católica e a Igreja, que tinham sido banidas da maior parte da Europa, fosse transportada para as Índias, China, Japão e outros países longínquos.
"...Enfim, a este quinto período se reporta também o quinto dia da Criação, quando Deus disse que as águas produzissem toda espécie de peixes e répteis, e que Ele cria os pássaros do céu.
"Ora, estas duas espécies de animais simbolizam a maior liberdade, pois o que há de mais livre que o peixe na água e o pássaro no ar? Assim temos metaforicamente, neste quinto período, a terra e a água plenos de répteis e de pássaros. Pois são abundantes os homens carnais que vão abusar da liberdade de consciência e não se contentarão com as concessões que lhe forem feitas recentemente no tratado de paz, "rampent a volent" (arrastam-se e roubam) depois os objetos de suas volúpias e de suas concupiscências. É a eles que se referem as palavras do Apóstolo São Judas em sua Epístola quando diz:
"Estes blasfemam de todas as coisas que ignoram e pervertem-se como animais sem razão em todas aquelas coisas que conhecem naturalmente. A desordem reina nos seus festins, banqueteiam-se sem respeito, apascentando-se a si mesmos; verdadeiras nuvens sem água que o vento transporta de cá para lá, árvores do outono, sem frutos, duas vezes mortas, desarraigadas, ondas furiosas do mar que arrojam as espumas das suas torpezas; estrelas errantes para os quais está reservada uma tempestade de trevas por toda eternidade...  Murmuradores inquietos que andam segundo as suas paixões e a sua boca profere o orgulho, os quais mostram admiração pelas pessoas segundo convém ao seu próprio interesse...  Impostores cheios de impiedade, que provocam divisões; homens sensuais que não têm o espírito de Deus" (J. 1,10).
"Ora, é assim que neste miserável período da Igreja, se relaxa sobre os preceitos divinos e humanos, e que a disciplina é enervada, os santos cânones são tidos por nada e as leis da Igreja não são melhor observadas pelo clero do que as leis civis permitem ao povo. Daí serem como répteis sobre a terra e no mar, e como pássaros no ar: cada um é arrastado a crer e a fazer o que lhe apraz, segundo o instinto da carne.
"Eu conheço tuas obras: tens a reputação de estar viva, mas tu és morta!" A humildade é quase desconhecida neste período, e ela há de dar lugar ao fausto e a vanglória, sob pretexto de conveniência e de posição social. Torna-se ridícula a simplicidade cristã, que se trata de loucura e asneira, enquanto se vê como sabedoria o saber elevado, e o talento de obscurecer por questões insensatas e pelos argumentos complicados, todos os axiomas do direito, os preceitos da moral, os santos cânones e os dogmas da religião, de tal sorte que não há mais nenhum princípio por mais santo, por mais autêntico, por mais antigo e por mais certo que possa crer, que seja isento de censuras, de críticas, de interpretações, de modificações, de delimitações e de questionamentos da parte dos homens.
"Freqüenta-se,  na verdade, as igrejas, mas não se mostra respeito à presença de Deus Todo Poderoso, ri-se, fala-se, olha-se de cá para lá, brinca-se, provoca-se pelos olhares, etc.
"A palavra de Deus é negligenciada, menosprezada, posta em ridículo. Não há mais amor pela Sagrada Escritura: é Maquiavel, Dodin e todos seus semelhantes, somente, que se estima e se aprecia.
"Sê vigilante e confirma os restos que estão prestes a morrer, porque não acho as tuas obras perfeitas diante do meu Deus. Lembra-te, pois, do ensinamento que recebeste e ouviste, guarda-o e faz penitência. Porque se não vigiares, virei a ti como a um ladrão, e não saberás que hora virei a ti" (Apoc 3,2-3)
"Aqui, novamente, Jesus Cristo nos intima e faz ressoar a nossos ouvidos, pela voz do profeta, a necessidade de vigiar, porque nós nos encontramos em tempos maus, e num período de perigos e calamidades.
"A heresia se espalha por toda parte, por cima de tudo, e levanta a cabeça; suas hostes se fortificam mais do que nunca, e seus adeptos detêm o poder quase que por toda parte. Eis o que faz com que muitos católicos se tornem tíbios, que os tíbios se reflexionem e que um grande número conceba o escândalo em seus corações.
"A guerra é também uma das causas da ignorância, mesmo das coisas essenciais da Fé. A corrupção dos costumes vai crescendo nos campos (de batalha) e entre os soldados, que são raramente concedidos bons pastores, bons pregadores e bons catequistas. Daí a geração se tornar rude, grosseira e inflexível; ignorando tudo ou quase tudo, não se preocupando com Deus, nem do céu, nem daquilo que é honesto. Não conhecem senão a rapina, o roubo, a blasfêmia e a mentira, não se estuda senão como enganar o próximo.
"Dentro da Fé católica, a maior parte são tíbios, ignorantes, enganados por hereges, que se gabam de sua felicidade, se rejubilam, e ridicularizam os verdadeiros fiéis, que se verão atormentados, empobrecidos e desolados.
"Pois  eu não acho perfeitas tuas obras diante de meu Deus”.  Aqui Nosso Senhor Jesus Cristo fala como homem e como Chefe invisível da Igreja. A divindade, no abismo infinito de sua pré-ciência eterna, Lhe revela os defeitos e os pecados dos pastores e dos outros membros futuros da Igreja, e lhes confere, ao mesmo tempo, a missão de os corrigir. Jesus Cristo fundamenta então sua censura sobre a ausência de solicitude pastoral que Deus exige, entretanto, dos bispos e dos prelados da Igreja.
"Lembra-te pois do que recebeste e ouviste, observa-o e faz penitência”.  Entre os católicos encontram-se poucos que reconhecem seus defeitos e pecados. Todos os bispos, os prelados e os pastores de almas dizem que cumpre sempre seus deveres, que velam e vivem como convém a seu estado.
"O mesmo acontece com os imperadores, os reis, os príncipes, os conselheiros e os juízes, se gloriam de terem agido bem e de continuarem a bem agir. Todas as ordens sagradas pretendem ser inocentes. Enfim, o povo mesmo, do primeiro ao último tem o costume de dizer: "Que tenho feito eu de mal e que mal tenho feito?" É desta maneira que todos se escusam.
"Assim, pois, para que a Divina Sabedoria e Bondade pudesse reconduzir à penitência esta geração perversa e corrompida no mais alto grau, ela lhe envia quase que continuamente a guerra, a peste, a fome e outras calamidades. Mas tornamo-nos ainda piores e não quisemos crer que fomos lançados nestes males por causa dos nossos pecados, enquanto a Sagrada Escritura diz, entretanto: "Não há mal em Israel que o Senhor não tenha enviado". De onde é de temer que o Senhor se exaspere ainda mais em sua cólera, e nos ameace por essas palavras que seguem: "Por que se tu não vigias eu virei a ti como um ladrão e tu não saberás a que hora virei".
"Depois desta prescrição do remédio segue uma ameaça terrível contra a Igreja de Deus:  "Eu virei a ti suscitando males".
"A Escritura nos adverte da mesma maneira no livro da Habacuc: "Esperai-O, Ele virá e Ele não tardará."  Ele compara aqui sua visita e o envio de seus males à chegada de um ladrão. Pois o ladrão tem o costume de chegar de repente, de improviso. Ele vem durante o sono. Ele faz a devastação em sua casa, enfim ele pilha e rouba tudo. Ora, tal será o caráter do mal que Deus suscitará contra Sua Igreja. Este mal são os hereges e os tiranos que virão de repente, de improviso, durante o sono dos bispos, dos prelados, dos pastores, que tomarão de cima e revirarão os bispos e pilharão os prelados e os bens eclesiásticos, como nós vemos com nossos próprios olhos o que eles fizeram na Alemanha e no resto da Europa.
"Eu virei a ti como um ladrão, suscitando contra ti as nações bárbaras e os tiranos que virão repentinamente, enquanto que vós dormireis acostumados a vossas volúpias, impurezas e abominações. Eles o atacarão, penetrarão até em suas fortalezas, em suas guarnições. Eles entrarão na Itália, devastarão Roma, queimarão os templos e minarão tudo, se vós não fizerdes penitência e não vos despertardes, enfim, do sono e torpor de vossos pecados. "E tu não saberás a que horas virei".
"Jesus Cristo faz aqui assinalar, como de passagem, a cegueira da qual Deus costuma fulminar os príncipes do povo, a fim de que não possam nem prever nem prevenir os males que os ameaça. Porque Ele esconde a seus olhos entorpecidos pelo sono das volúpias os males que devem assaltá-los. É por isso que Ele diz: "E tu não saberás a que horas eu virei". Quer dizer que o tempo de sua visita será escondido a seus olhos e tu não poderás mais prevenir o mal nem te prepararás mais para o combate, porque o inimigo virá rapidamente e inundará tudo como águas de uma torrente impetuosa, como uma flecha lançada no ar, como a funda, como um cão rápido.
"Tu tens um pequeno número de homens em Sardes que de nenhum  modo sujaram suas vestimentas.
"Segue agora o elogio de um pequeno número de homens, relativamente pequeno, sobre uma tão grande quantidade de estados diversos. Não há senão um pequeno número que faz exceção e que crêem ainda de todo o seu coração no Senhor Deus que está nos céus. E são poucos que esperam na Providência, que servem a Jesus Cristo segundo seu estado e vocação e que amam a Deus e ao próximo".



(Traduzido de : “Bénédictions et malédictions – Prophéties de la révelation privée”, de Jean Vaquié, Paris, 3a. Edição revista e ampliada, págs. 47 a 76).

terça-feira, 25 de julho de 2017

SANT'ANA, PATRONA DA BRETANHA FRANCESA


APARIÇÃO DE SANTA ANA NA FRANÇA EM 1623

 No início de agosto de 1623, um camponês chamado Yves Nicolazic, que vivia em Auray (comuna francesa, na região administrativa da Bretanha, departamento de Morbihan), no findar intenso dia de trabalho, estava a pensar em Sant´Ana, por quem dedicava profunda devoção, quando, de repente, uma luz muito forte iluminou o quarto e uma mão, levando um archote, surgiu dentro da noite.

 Repetidas vezes Nicolazic se via reconduzido à noite, ao longo dos caminhos, por uma chama que o precedia.

 Certa noite, viu uma senhora de branco com um círio nas mãos, no famoso campo de Bocenno. 

Noutra ocasião, presenciou uma chuva de estrelas a cair sobre o campo.

Estes acontecimentos se desenrolavam, plácida e suavemente. 

Nicolazic se interrogava sobre os estranhos episódios, contudo, estes acontecimentos em nada modificaram seu dia-a-dia a não ser o afã pela oração. E ele passou a rezar, sempre, mais e mais. Na noite de 25 de julho de 1624, véspera da festa de Sant´Ana, a senhora lhe apareceu, novamente, pelo caminho, para lhe tranqüilizar, conduzindo-o até a sua casa, com uma espécie de archote nas mãos. 
Interrogando-se sobre aqueles acontecimentos, retirou-se para rezar na sua granja. Foi então que, pelo trajeto, ouviu "o rumor de uma grande manifestação". Estranhamente, a estrada estava vazia!
 De repente, num clarão, a Senhora misteriosa apareceu, pedindo-lhe que escrevesse o que ela tinha a lhe dizer. 
Nicolazic, confuso, colocou-se em oração e a misteriosa Senhora continuou:

 "Yves Nicolazic, não temas mais.  Eu sou Ana, mãe de Maria.  Dize a teu pároco que neste local da Terra, chamado Bocenno, existia, outrora, uma capela que me era dedicada, e isso, antes mesmo que houvesse qualquer aldeia por aqui.  Era a primeira capela erguida em toda a região. Ela foi destruída há 924 anos e seis meses. Desejo que uma nova capela seja erguida neste local, o mais depressa possível, e que cuideis dela, porque Deus quer que eu seja honrada nesta área."
Yves Nicolazic, contam os historiadores, dormiu, tranqüilo. Havia que se esperar ainda um ano para que a primeira Missa de Sant´Ana, em Bocenno, fosse autorizada. 
O reitor o repreendera severamente - com efeito, não é fácil aceitar como real, tal acontecimento. 
Não obstante, dois cristãos laicos o animaram: eram eles, os senhores de Kermedio e de Kerloguen: este último, proprietário do campo de Bocenno, prometeu-lhe apoio, para a construção da capela, e aconselhou-o a reunir alguns testemunhos dos fatos miraculosos ocorridos.
Na noite de 7 para 8 de março de 1625, Sant´Ana apareceu-lhe, mais uma vez, recomendando-lhe que fosse chamar os vizinhos e que seguissem, todos, a luz que os guiaria:

 "Leva-os contigo: esta luz vos conduzirá e vós encontrareis a imagem que vos protegerá de todos os males do mundo, e o mundo conhecerá, enfim, a verdade daquilo que prometi."
Pouco depois, os camponeses encontraram, sob a luz da tocha, uma antiga imagem de Sant´Ana, em madeira, já bem desgastada, carcomida, com vestígios em tons brancos e azuis. 
Ao seu lado, a filha, a Virgem Maria, com o Menino Jesus ao colo. 
Três dias passados, os peregrinos começaram a chegar, copiosamente, para rezar a Sant´Ana, diante da estátua que serviria de sinal de conversão para o mundo.
Era a realização da profecia - a multidão, zelosa, na caminhada. Peregrinações que, desde então, tornaram-se constantes. Apesar da discrição e das restrições do Cura, - que depois se desculpou - as pesquisas ordenadas por Monsenhor de Rosmadec, Bispo de Vannes, concluiriam a veracidade dos fatos, e a primeira Missa oficial foi celebrada , por decisão sua, no dia 26 de julho de 1625, diante de extraordinária multidão, estimada em cem mil pessoas.
A partir daquele dia, Yves Nicolazic tornou-se construtor.
Passou a dirigir os trabalhos; conduzia as carroças - oferecidas pelo povo - cheias de pedras ou de ardósia, lenha do derrube das árvores, pagamento dos fornecedores e tudo, com sabedoria e probidade, de um homem que não sabia nem ler nem escrever, e que só falava bretão (língua céltica daquela província francesa). 
Quando a capela ficou pronta, ele se eclipsou, deixando a aldeia de Keranna e cedendo lugar a Sant´Ana e aos peregrinos, cada vez mais numerosos. 
Até hoje, Sant´Ana é venerada na Igreja de Auray, dedicada à avó de Jesus. Em 1996, o papa João Paulo II fez uma visita ao local e na ocasião estiveram presentes cerca de 150 mil pessoas. 
Após sua visita, aumentou o número de peregrinos para cerca de 800 mil pessoas por ano, sendo que não há um dia sequer que não haja peregrinos.


Fonte:

João paulo II, quando visitou o Santuário em 1996, levou multidões a aumentar a devoção a Sant'Ana



quinta-feira, 20 de julho de 2017

SANTO ELIAS, O PROFETA ÍGNEO



Presente na Transfiguração de Jesus Cristo, reatador da aliança de Deus com o povo hebreu, adversário e destruidor do culto pagão de Baal, primeiro devoto de Nossa Senhora, o profeta Elias foi arrebatado vivo num carro de fogo. Onde se encontra? Voltará? Quando? Eis questões candentes a respeito de um dos mais extraordinários personagens da História. Sua festa é comemorada a 20 de julho.
Volta anunciada por Nosso Senhor
"E ele, respondendo, disse-lhes: Elias certamente há de vir [antes de minha segunda vinda], e restabelecerá todas as coisas" (Mt 17, 11).
São palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo a Pedro, João e Tiago, logo após o episódio da Transfiguração. Se aos profetas no Antigo Testamento coube a honra e a glória de anunciar a vinda do Salvador, Santo Elias teve o privilégio de ser anunciado pelo próprio Messias. Quando desciam o monte Tabor, o Mestre proibiu aos três Apóstolos contar os fatos ocorridos lá no cimo, até sua ressurreição. Pelo caminho, vinham os discípulos conversando entre si a respeito do sentido da grandiosa cena à qual haviam assistido. Como todo judeu piedoso, acreditavam na necessidade de Elias preceder o Messias. E agora ele aparecera na Transfiguração de Jesus! Seria o começo? Um deles não se conteve e perguntou ao Mestre: "Por que dizem os escribas que Elias ainda há de vir?"
E Jesus retorquiu com as palavras reproduzidas no início do presente tópico, confirmando a profecia sobre o retorno de Elias para restabelecer a ordem. Quando? Antes de examinar tal questão, vejamos quem foi esse varão tão grandioso.
Gládio e fogo
Seu nome, que significa "o Senhor é meu Deus", aparece de forma abrupta na História do Reino de Israel, e já com um brilho prodigioso: "Suas palavras queimavam como uma rocha ardente. Elias, o profeta, levantou- se logo como um fogo" (Ecle 48, 1-10).
Sabe-se que ele nasceu em torno do ano 900 a.C. em Tesba de Galaad, junto à fronteira do país dos amonitas (atual Jordânia). "Quando Elias estava para nascer, seu pai Sabacha viu-o saudado por alvos anjos, envolvido por faixas de fogo e alimentado com chamas. Tendo ido a Jerusalém, relatou [no templo] a visão, e o oráculo lhe disse que não temesse, pois aquele que ia nascer habitaria na luz, suas palavras seriam sentença segura e julgaria Israel com gládio e fogo" (Doroteu, Sto. Epifânio e Metafrates, apud Cornelio a Lápide, Comentários ao Livro 1º dos Reis, cap. 17)
Sua vida foi repleta de aspectos extraordinários. Numerosos autores lhe atribuem a virgindade perpétua, embora essa virtude fosse rara em seu tempo. O famoso exegeta Cornélio a Lápide lhe confere, logo no início de seus comentários, a santidade, austeridade e inocência de vida. Mostra, depois, como o profeta se tornou fundador da vida monástica e eremítica, ao retirar-se para o Monte Carmelo, onde se dedicou à contemplação, reunindo Eliseu e vários discípulos.
Irrompendo no meio da apostasia
Naquele tempo, os israelitas haviam mesclado, ao culto do verdadeiro Deus, o culto pagão de Baal, deus da fertilidade, e quase já não conseguiam distinguir um do outro. Os 450 sacerdotes dessa religião sangüinária e imoral eram protegidos pela rainha, Jezabel, uma fenícia, sendo abrigados e alimentados no próprio palácio real. O rei Acab apoiava as ações de sua esposa, a ponto de edificar, dentro de sua residência, um templo para Baal.
Nesse ambiente irrompe como um raio o homem de Deus: "Elias, o tesbita, um habitante de Galaad, veio dizer a Acab: ‘Pela vida do Senhor, Deus de Israel, a quem sirvo, não haverá nestes anos orvalho nem chuva, senão quando eu o disser'." (1Reis 17, 1). Esse ardor nas palavras e essa impressionante certeza de que o Senhor o ouvia são característicos desse santo profeta. E ele entra pela primeira vez na História já confrontando-se com o rei e os adoradores de Baal.
São João Crisóstomo se entusiasma com essa tempestuosa atitude de Elias, e comenta: "Quando ele, profeta santíssimo, pôs os olhos no povo prevaricador, quando viu claramente Baal e os ídolos serem sacrilegamente adorados, com desprezo do Senhor, quando todo o povo, abandonando o Criador, se entregava ao culto das estátuas de barro dos bosques, movido pelo zelo de Deus, decretou contra a Judéia a sentença da seca e do fim das chuvas. Então, subitamente, a terra lançou vapores, o céu se fechou, os rios secaram, as fontes se extinguiram, o bronze ferveu, a temperatura torturou, a tranqüilidade ficou penosa, as noites se tornaram secas, os dias áridos, as searas se torraram, os arbustos feneceram, osprados desapareceram, os bosques enlanguesceram, os campos jejuaram, a terra tornou-se inculta, suas ervas morreram, e a ira de Deus se manifestou sobre todas as criaturas" (apud Cornelio a Lápide, idem).
A primeira fuga
Por ordem do Senhor, Elias retirou-se para a banda do Oriente, junto à torrente do Carit. Nesse local foi alimentado com pão e carne levados por corvos. Porém, a água secou, e ele teve de mudar de residência.
Deus lhe preparara hospedagem em casa de uma viúva, em Sarepta, na Fenícia. Seria ocasião de ele realizar mais milagres, em primeiro lugar ao multiplicar diariamente a farinhae o azeite da pobre mulher, ao longo de três anos, e ainda ao ressuscitar o filho único dela: "Depois de ter aprendido a misericórdia em seu retiro à margem da torrente do Carit, ensina à viúva de Sarepta a fé na palavra de Deus, fé que ele confirma por sua oração insistente: Deus devolve à vida o filho da viúva", diz o Catecismo da Igreja Católica (nº 2583), reiterando a confiança do santo profeta no atendimento de suas súplicas.
Extermínio do culto de Baal
Mas a fome tornava-se extrema em Israel. Acab, aflito por não encontrar Elias, saiu pelos áridos campos à procura de fontes e ervas. Enquanto o rei percorria em vão o país, vieram avisá-lo da aproximação de Elias. Acab foi ao seu encontro, e tão logo viu o homem de Deus, disse-lhe:
"Eis-te aqui, o perturbador de Israel". - "Não sou eu o perturbador de Israel," respondeu Elias, "mas tu, sim, e a casa de teu pai, porque abandonastes os preceitos do Senhor, e tu seguiste aos Baals. Convoca, pois, à montanha do Carmelo, junto de mim, todo o Israel com os 450 profetas de Baal e os 400 profetas de Asserá, que comem à mesa de Jezabel" (1Reis 18, 17-19).
Quando os convocados se reuniram no monte Carmelo, Elias, aproximando-se do povo, dirigiu-se a todos, dizendo: "Até quando claudicareis dos dois pés? Se o Senhor é Deus, segui-O, mas se é Baal, segui a Baal!" (1Reis, 18, 21). A bela imagem expressa o comportamento dos israelitas, de dobrar um joelho diante de Deus, e outro diante de Baal.
Deus sabe escolher o cenário para conferir valor e premiar o zelo dos varões de sua destra, pois o monte Carmelo era o lugar ideal para o grandioso episódio tão maravilhosamente narrado pela Escritura. Ergue- se alto, bem junto ao mar, na fronteira entre a Samaria e a Galiléia, a 32 quilômetros de Nazaré. Hoje em dia, pelas suas encostas, avança a cidade de Haifa.
E Elias tornou a dizer ao povo: "Eu sou o único dos profetas do Senhor que fiquei; mas os profetas de Baal chegam a 450 homens. Dê-se-nos, portanto, um par de novilhos; eles escolherão um, fá-lo-ão em pedaços, e o colocarão sobre a lenha, mas sem meter fogo por baixo; eu tomarei o outro novilho e o porei sobre a lenha, sem meter fogo por baixo. Depois disso, invocareis o nome de vosso deus, e eu invocarei o nome do Senhor. Aquele que responder pelo fogo, esse será reconhecido como o (verdadeiro) Deus". Todo o povo respondeu: "É uma boa proposta" (1Reis 18, 22-24).
O homem de Deus, varão da confiança total no Senhor, estava preparando os elementos para desmascarar, de modo espetacular, diante de todo o povo, a fraudulenta religião pagã. Com sua maneira de ser categórica e ao mesmo tempo diplomática, convidou os "profetas" do falso deus a começarem invocando Baal, "porque sois em maior número". Eles despedaçaram o novilho, colocaram-no sobre o altar, e deram início às suas cerimônias impetratórias:
"Puseram-se a invocar o nome de Baal, desde a manhã até o meio-dia, gritando: ‘Baal, responde-nos!' Mas não houve voz, nem resposta. E dançavam ao redor do altar que tinham levantado. Sendo já meio-dia, Elias escarnecia- os, dizendo: ‘Gritai com mais força, pois (seguramente) ele é deus; mas estará entretido com alguma conversa ou ocupado, ou em viagem, ou estará dormindo... e isso o acordará'. Eles gritavam, com efeito, em alta voz, e retalhavam- se segundo o seu costume, com canivetes e lancetas, até se cobrirem de sangue" (1Reis 18, 26-28).
Deus atende aos rogos de Elias
Esgotou-se o prazo para os 450 "profetas" de Baal; era hora de Elias clamar com confiança a ação do Deus de Israel: "Elias disse ao povo: ‘Aproximai-vos de mim', e todos se aproximaram". Reinava, decerto, um silêncio pleno de expectativa, com todos os olhos cravados na figura daquele homem de fogo: "Elias reparou o altar demolido do Senhor. Tomou doze pedras, segundo o número das tribos dos filhos de Jacó, a quem o Senhor dissera: Tu te chamarás Israel. E erigiu com essas pedras um altar ao Senhor. Fez em volta do altar uma valeta, com a capacidade de duas medidas de semente. Dispôs a lenha, e colocou sobre ela o boi feito em pedaços. E disse: ‘Enchei quatro talhas de água e derramai- a em cima do holocausto e da lenha'. Depois disse: ‘Fazei isto pela segunda vez'. Tendo-o eles feito, disse: ‘Ainda uma terceira vez'. Eles obedeceram. A água correu em volta do altar e a valeta ficou cheia. Chegou a hora da oblação. O profeta Elias adiantou-se e disse: ‘Senhor, Deus de Abraão, de Isaac e de Israel, saibam todos hoje que sois o Deus de Israel, que eu sou vosso servo, e que por vossa ordem fiz todas estas coisas. Ouvi-me, Senhor, ouvi-me, para que este povo reconheça que Vós, Senhor, sois Deus, e que Vós sois que converteis os corações'".
E Deus atende com abundância a oração confiante do servo fiel: "Então, subitamente, o fogo do Senhor baixou do céu e consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, a poeira e até mesmo a água da valeta. Vendo isso, o povo prostrou-se com o rosto por terra, e exclamou: ‘O Senhor é Deus! O Senhor é Deus!' Elias disse-lhes: ‘Tomai agora os profetas de Baal; não deixeis escapar um só deles!' Tendo- os o povo agarrado, Elias levou-os ao vale de Cison e ali os matou" (1Reis 18, 30-40).
A nuvenzinha e a Mãe de Deus
Entre Elias, sua missão e os lugares onde viveu existe uma bela harmonia, muito bem ressaltada pelo autor do Livro dos Reis. E um dos méritos do escritor inspirado é o de fazer sentir esse acordo profundo. Carit evoca o espírito eremítico de Elias; o Horeb, sua intimidade com Deus; Sarepta, seu espírito de obediência ao Senhor e sua prudência.
O Carmelo, a montanha da renovação da Aliança de Deus com seu povo, recorda seu zelo pela glória do Altíssimo e sua fé inquebrantável. Carmelo é um nome derivado do hebraico Karem, que significa jardim ou pomar e vinha do Senhor. Era o local apropriado para Elias rogar fervorosamente a Deus pela chuva. Logo após o confronto com os 450 "profetas" de Baal, Elias subiu ao cimo desse monte e orou a Deus. Por sete vezes mandou seu servo olhar para as bandas do mar, para verificar se havia sinal de chuva. "Na sétima vez o servo respondeu: ‘Eis que sobe do mar uma pequena nuvem, do tamanho da palma da mão' (...) Num instante, o céu se cobriu de nuvens negras, soprou o vento e a chuva caiu torrencialmente" (1Reis 18, 42-45).
Deus ouvira novamente o santo profeta: "A oração fervorosa do justo tem grande poder" (Catecismo da Igreja Católica, nº 2582).
Segundo uma longa tradição na Igreja, aquela "nuvenzinha", prenunciadora da chuva, prefigurava a Santíssima Virgem. No Novo Testamento, Ela faria "chover sobre a humanidade" o Redentor, e, depois, as graças obtidas por sua intercessão. O profeta Elias é considerado seu primeiro devoto.
Encontro com Deus e renovação da Aliança
Apesar do comprovado milagre, Jezabel ficou devorada de ódio contra Elias, e mandou-lhe um mensageiro, avisando sua determinação de matá-lo no dia seguinte, tal qual ele fizera com os "profetas" de Baal.
Tomado de temor, o profeta caminhou sem parar em direção ao sul. No limiar do deserto, dispensou seu criado, e se embrenhou sozinho por aquelas paragens inóspitas, andando durante um dia inteiro até cair meio desfalecido. Mas Deus enviou um Anjo para o revigorar, oferecendo-lhe pão e água, e assim alimentado, Elias caminhou quarenta dias e quarenta noites até o monte Horeb, "a montanha de Deus" (1Reis, 19, 1-8).
Nesse simbólico lugar, onde séculos antes Moisés falara com Deus, Elias teve um encontro análogo com o Senhor. Somente ele e Moisés apareceram na transfiguração de Jesus; também os dois foram os únicos a presenciar a glória do Senhor no Horeb. Deus passou diante dele, e duas vezes lhe dirigiu a palavra, perguntando: "Que fazes aqui, Elias?" E o profeta respondeu: "Eu me consumo de zelo pelo Senhor Deus dos exércitos. Porque os israelitas abandonaram a vossa aliança, derrubaram vossos altares e passaram os vossos profetas ao fio da espada. Só eu fiquei, e querem tirar-me a vida" (1 Reis 19, 9-10).
Glorioso por seus prodígios
Deus o encarregou de várias missões, consistindo as principais em sagrar um novo rei de Israel e em ungir Eliseu, como profeta continuador de sua missão.
Esses encargos deram ocasião a outros episódios portentosos narrados no livro dos Reis. O Espírito Santo canta o brilho de seus feitos com essas palavras: "Quão glorioso te tornaste, Elias, por teus prodígios!.Bem-aventurados os que te conheceram, e foram honrados com a tua amizade!" (Eclo 48, 4 e 11).
O ponto auge de sua história se verifica ao despedir- se de Eliseu, conforme no-lo relata o Segundo Livro dos Reis: "Continuando o seu caminho, entretidos a conversar (Elias e Eliseu), eis que de repente um carro de fogo com cavalos de fogo os separou um do outro, e Elias subiu ao céu num turbilhão" (2Reis 2, 11).
Ora, o céu propriamente dito ainda não havia sido aberto pelo Redentor. Assim, perguntamo-nos novamente: Onde está Elias e quando voltará?
Sua missão ainda não terminou
Arrebatado em corpo e alma num carro de fogo, Elias ainda não morreu, segundo uma consagrada tradição na Igreja Católica. Onde se encontra agora? Não se sabe. A Sagrada Escritura, na versão dos Setenta, diz ter sido ele arrebatado "quasi in coelum" ("quase aocéu"). E esta é, comumente, a opinião dos Santos Padres e Doutores. Para alguns deles, Elias foi levado ao Paraíso Terrestre, o lugar de onde haviam sido expulsos Adão e Eva, após cometerem o Pecado Original. Para outros, foi conduzido para uma região ignorada da terra. Entre os da primeira opinião estão Santo Irineu, Tertuliano, Santo Isidoro e São Tomás de Aquino, e entre defensores da segunda, São Gregório Magno. Teodoreto manifesta indecisão, por achar insuficientes os dados da Escritura, como pensam também São João Crisóstomo e Santo Agostinho.
Voltará Elias, e quando? A tradição judaica, no Antigo Testamento, bem como a cristã, acreditam em seu retorno. E esta crença é corroborada por várias passagens da Bíblia.
O já citado livro do Eclesiástico é taxativo a esse respeito. Referindo-se ao profeta, exclama: "Tu, que foste arrebatado num turbilhão de fogo, num carro puxado por cavalos ardentes. Tu, que foste escolhido pelos decretos dos tempos para amenizar a cólera do Senhor, para reconciliar o coração dos pais com os filhos, e para restabelecer as tribos de Jacó" (Eclo 48, 9-10).
E através do profeta Malaquias, Deus repete essa predição: "Vou mandar-vos o profeta Elias, antes que venha o grande e temível dia do Senhor, e ele converterá o coração dos pais para os filhos, e o coração dos filhos para os pais, de sorte que não mais ferirei de interdito a terra" (Ml 3, 23-24).
De tal modo a idéia da volta de Elias estava fixa na mente dos judeus, que tomaram Jesus por ele (Mt 16, 14; Lc 9, 8), e pensaram o mesmo de São João Batista (Jo 1, 21). Este último negou que o fosse, embora tivesse vindo "no espírito e no poder de Elias, reconduzir os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, para preparar ao Senhor um povo bem disposto" (Lc 1, 17).
Acima de tudo, são decisivas as já citadas palavras de nosso divino Salvador: "E ele, respondendo, disse-lhes: Elias certamente há de vir (antes de minha segunda vinda), e restabelecerá todas as coisas" (Mt 17, 11).
Assim, antes da primeira vinda do Messias ao mundo, São João Batista foi enviado como precursor. Antes da segunda vinda, próxima do grande e terrível julgamento final, Elias deverá retornar. Ele, o príncipe dos profetas e prefigura de Nosso Senhor Jesus Cristo, ainda não terminou sua missão: há quase três milênios aguarda a chegada do fim dos tempos.

Texto divulgado pela Redação - (Sexta-feira, 18-07-2014, Gaudium Press) - (Monsenhor João Clá Dias, EP  (Revista Arautos do Evangelho, Jul/2002, n. 7, p. 7 à 10) - Conteúdo publicado em gaudiumpress.org, no link http://www.gaudiumpress.org/content/60953#ixzz37yM9wBHG )



quinta-feira, 13 de julho de 2017

A PROFUNDA AFINIDADE ENTRE OS MAUS



Uma observação de São João Bosco esclarece a causa da Revolução

Plinio Corrêa de Oliveira

(“El Cruzado Español”, Madri, 1959 )
"Cruzado Espanhol" honra-me reproduzindo em suas colunas boa parte do meu estudo sobre "Revolução e Contra-Revolução". Tal publicação fez-me ver que o assunto interessa aos leitores da citada revista. Assim é que me proponho, na presente colaboração, tratar - embora ligeiramente - duma questão inteiramente relacionada com o tema de meu estudo, mas que, pelo amor à brevidade, não desenvolvi tanto quanto seria meu desejo.
* * *
Entrarei na matéria de modo talvez um tanto inesperado.
Folheando escritos de São João Bosco, encontrei a seguinte curiosa observação: "Primeiramente, no que se refere aos maus, direi apenas uma coisa, que talvez pareça inverossímil, mas que é verdade certa, tal qual a digo: suponhamos que entre 500 alunos de um colégio haja um de vida depravada; chega depois um novo aluno pervertido; são de regiões e lugares diferentes, até de nacionalidades diversas, estão em cursos e lugares diferentes, nunca se viram nem se conheceram; apesar de tudo isto, no segundo dia de estadia no colégio, e talvez após algumas horas, vê-los-eis juntos durante o recreio. Parece que um espírito mau os faz adivinhar quem está manchado de seu mesmo negrume, ou então é como se um ímã demoníaco os atraísse para travar íntima amizade. O `dize-me com quem andas e te direi quem és´ é um meio facílimo de dar com as ovelhas sarnentas, antes que se transformem em lobos rapaces. Não são para colégios correntes" (Biografia S.D.B. - B.A.C. - Madri, 1955 - págs. 457/58)
Testemunho de observador tão veraz, experimentado e competente em assuntos pedagógicos, não pode ser posto em dúvida.
No entanto este testemunho põe-nos na presença de fato que não é difícil observar, mesmo entre adultos, tanto nos episódios rotineiros da vida quotidiana quanto nos grandes acontecimentos históricos. Quando o mal chega a um certo nível de profundidade nas almas, estas ficam dotadas de uma agudeza de vistas que lhes permite, através de indícios que a outros poderiam parecer insignificantes, chegar a reconhecer de longe os seus congêneres. A tal agudeza de vistas junta-se uma outra peculiaridade: uma recíproca atração que os une rapidamente, em íntima convivência, apesar das muitas circunstâncias que os possam separar, como diferença de origem, de idade, etc. É fácil verificar como da conjunção de elementos de tal índole origina-se, naturalmente, um grupo e até uma corrente, que funciona como um tumor que destila veneno.
1. A união acentua as características - Na intimidade do grupo forma-se, pela recíproca emulação, um ambiente diametralmente oposto ao ambiente geral em que se encontram.
2. A acentuação das características engendra o ódio - Tal diversidade engendra, necessariamente, antipatias, fricções, ódio contra a maioria. Tal ódio poderá conservar-se encoberto, por motivos de convivência, mas em alguns casos (não sempre) a própria necessidade de calar aumentará sua virulência.
3. O ódio concita à luta - É uma conseqüência forçosa. Quem se encontra mal num ambiente, pugna por modificá-lo. E, ao defrontar-se com obstáculos, pugna para eliminá-los. Se estes obstáculos não se deixam eliminar passivamente, dão lugar à luta.
4. A luta conduz ao proselitismo e à combinação de esforços - É natural que um núcleo de maus não somente atraia seus congêneres pela força de imantação, tão acertadamente descrita por São João Bosco, mas também é natural que, pela tendência à expansão, inerente a tudo quanto é intensamente vivo, assim como pela necessidade de recrutar soldados para a luta, procure aumentar o número de seus adeptos. A conjugação de esforços resulta de um imperativo natural, que não requer nenhuma explicação.
5. Da permanência de tais esforços articulados resulta uma organização - Também isto é óbvio. Elementos ligados entre si permanentemente, por afinidade profunda de mentalidades, identidade de objetivos e íntima conexão de esforços, não tardarão em elaborar um sistema ideológico, um programa e uma técnica de ação comuns, e em constituir um órgão diretivo. Nesse momento estará traçado o itinerário, que vai do simples fato da existência de alguns "maus", que se intuem reciprocamente e se põem em contato, até à formação de uma associação. Oculta como a maçonaria, semi-oculta como o jansenismo ou o modernismo, declarada como o luteranismo ou o comunismo, esta associação se propõe ao combate em todos os terrenos - ideológico, artístico, político, social, econômico, etc. - para a conquista de seus objetivos. Numa palavra, faz revolução.

O ódio ao bem
A causa motriz de toda esta sucessão de fenômenos é o ódio ao bem, engendrado pela perversão quando esta atinge certo nível de profundidade.
Insisto em tal asserção. E sei que, quando a perversão alcança tal nível de profundidade, desperta essa misteriosa capacidade de detectação e atração mútuas, que São João Bosco descreve, e que constitui o ponto de partida inicial de toda revolução organizada. Grande número de pessoas simpatiza com os bons; se cometem algum pecado, fazem-no com vergonha e tristeza. De gente assim, enquanto moralmente não caia muito, não há de se receiar uma conjuração. Noutros a perversão chega a atacar profundamente a humildade, até o ponto de ocasionar uma cínica indiferença ante o pecado, e até uma rebelião contra os bons e o bem.
Não se diga que o ser racional é incapaz de odiar o bem. Convém recordar aqui os "distingos" que o assunto comporta. Recordemos de passagem que, se isto fosse pura e simplesmente assim, os anjos maus não teriam odiado a Deus, que é o Sumo Bem. Além disso, tal aversão pode consistir simplesmente numa antipatia. Pode esta, pois, engendrar incompreensões, fricções, incidentes, sem por isso dar origem a uma conjuração ou a uma luta, mas casos há que demonstram um estado de espírito muito mais agressivo. Em tal sentido, o ódio de Caim contra Abel parece-me característico. Mais ainda o do Sinédrio contra Nosso Senhor.
Passando deste fato excelso para um fato contemporâneo, lembro-me de uma notícia que li recentemente. Nos Estados Unidos um grupo de “play-girls” agrediu uma jovem colega, reduzindo-a a um estado físico deplorável. Interrogadas pela polícia, as delinqüentes declararam que não tinham nenhuma queixa pessoal contra a vítima. A única razão de sua atitude agressiva foi que aquela colega era tão exemplar em seus estudos, em seu comportamento e em sua indumentária, que o mero fato de sua existência tornava-se insuportável para as agressoras. Se imaginarmos tal estado de ânimo, não em fúrias sem inteligência nem serenidade, mas em pessoas equilibradas, ponderadas e tenazes, teremos deixado a descoberto aquilo que origina uma pujante e perigosa associação, que poderá ocasionar o fim de uma era histórica.
Quase todas estas considerações são bastante conhecidas, pelo menos quando analisadas individualmente. Mas, em geral, elas se apresentam ao espírito confusas e isoladas. Postas a nu e reunidas dentro de um corpo de doutrinas e observações, sob a forma de rasgos correntes e unidos, entrevemos algo de novo. Demonstrarei, em poucas palavras, no que consiste este algo.

A simpatia e conivência dos moderados
 Pelo que vimos até agora, dois aspectos do mal foram postos em evidência. Um engendra a Revolução; e o outro, diante da presença do fenômeno Revolução, a que atitude induz?
Pelo mesmo princípio de atração do mal pelo mal (simile simili gaudet), que é a explicação profunda do fenômeno tão agudamente observado por São João Bosco, se depreende que o mal mais sutil fica atraído, hipnotizado e dominado pelo mais intenso. Assim se explica que as correntes moderadas da Revolução nunca lutam séria e duradouramente contra as correntes extremas. Os girondinos no século XVIII, os partidários da monarquia parlamentar inglesa no século XIX, os partidários de Kerensky no século XX, situados frente à Revolução, acabaram cedendo sempre, ainda quando lutaram com as armas na mão contra ela e a venceram temporariamente. Assim, a burguesia francesa venceu a comuna de Paris, e, segundo as aparências, opôs um dique à Revolução. Mas, assumindo o poder, essa mesma burguesia favoreceu o desenvolvimento do processo revolucionário. Mais ainda. Postos ante a Revolução e a Contra-Revolução, os revolucionários moderados flutuam, em geral tratando de pleitear conciliações absurdas. Mas, por fim, favorecem sistematicamente a primeira contra a segunda.
Como se explica isto, quando tantas vezes os mais altos e mais patentes interesses econômicos, as distinções mais honrosas, a formação tradicional mais profunda, os motivos de parentesco e amizade mais imediatos e ternos, deveriam induzir os "moderados" a aliar-se com a Contra-Revolução? Quantos foram, nas fileiras dos "moderados", os homens de talento que dispuseram de todos os recursos intelectuais para ver que suas perpétuas capitulações os iam arrastando ao abismo, e com eles toda sua descendência, e não obstante foram cedendo sistematicamente, como se esse mesmo abismo fatalmente os fascinasse?
Responder a esta pergunta é explicar a causa mais essencial das vitórias sistemáticas dos extremistas, nos processos revolucionários, pois estes foram sempre, ou quase sempre, pouco numerosos, pouco brilhantes ou de parcos recursos financeiros. Suas vitórias, na maior parte dos casos, foram devidas à timidez, à cegueira, à fraqueza e à resignação dos "moderados", geralmente ricos, influentes, numerosos e, invariavelmente, à disposição deles, preferindo tudo a apoiar seriamente as hostes da Contra-Revolução, em geral também pouco numerosas, pobres, etc.
Sem dúvida alguma, a inércia e o medo são características das classes ricas, e explicam em parte este fenômeno. Para nós, porém, não explicam tudo. Pois, de um lado, nem todas as classes ricas são vacilantes e medrosas. Por exemplo, não adoeceu deste defeito a nobreza européia na época das Cruzadas e da Reconquista. São pois as elites decadentes que adoecem deste mal.

Antipatia em relação à Contra-Revolução
 Mas o medo das elites decadentes não explica tudo. É notório que, se de um lado revelam ter medo do extremismo revolucionário, de outro emitem idéias passageiras e involuntárias de simpatia em relação ao citado extremismo. Por outro lado, em relação ao radicalismo [no sentido etimológico da palavra, ou seja, que possui raízes] contra-revolucionário não manifestam medo, mas sim uma antipatia sistemática e mal velada. Além disso, esta simpatia e antipatia, tão estáveis e impulsivas, têm que desempenhar forçosamente um papel, que seria um erro subestimar ao se levar em conta a atitude dos revolucionários "moderados".
Isto posto, como se explica essa simpatia? A que obedece? Os "moderados", aparentemente tão apegados ao dinheiro, à saúde e aos prazeres do espírito revolucionário, somente temem alguns poucos contágios. Será que eles, neste caso, são idealistas abnegados (no mau sentido da palavra, é claro)? As aparências diriam que não. Mas os fatos, bem observados, demonstram que de certo modo o são, e que esse "idealismo" desempenha um profundo papel na sua psicologia e nas suas atitudes. De que modo?
O espírito revolucionário constitui uma grave deformação doutrinária e moral. E isto apesar de coexistir, em muitos casos, com costumes incontaminados e uma indiscutível probidade nos negócios. São Pio X, na Encíclica "Pascendi", fez notar este ponto no que se refere ao modernistas. Quem tem este espírito, ainda que seja por participação, incorpora-se à misteriosa dinâmica do mal, descrita por São João Bosco. O espírito revolucionário, em sua forma moderada, se não suscita aquela capacidade de mútuo conhecimento e de articulação dinâmica, produz um fenômeno análogo, mas mais fraco. Este fenômeno é uma antipatia profunda, ainda que discreta e sutil, contra tudo aquilo que se opõe à Revolução.
Tal antipatia tem de particular o fato de que quase nunca se engana, e que qualquer manifestação do espírito contra-revolucionário, ainda que sutil e velada, é por ela discernida, rechaçada e até hostilizada. É por isto que, sem chegar a tomar a iniciativa de sacrificar seus interesses em prol da Revolução, aceita sem protestos este sacrifício e talvez se console com ele, pelo simples fato de que sua profunda antipatia para com a Contra-Revolução fica satisfeita com os progressos da Revolução.
O fato é espantoso. E seria até para não se acreditar, se não fosse patente no mundo inteiro. Quantas estirpes aristocráticas ou burguesas há, destruídas e expulsas pela Revolução, que renunciam a qualquer luta e vivem resignadas, quase alegres, numa situação obscura e quase proletária, perfeitamente integradas no mundo revolucionário do qual são vítimas. Escrevendo isto, penso em numerosos exilados russos, e mais particularmente em tantos clérigos cismáticos, que não se preocupam com outra coisa que não seja algum acordo com o comunismo. Desalento? Em parte, sim. Mas desalento sem rancor, quase alegre, no qual se vê claramente o sorriso de uma secreta simpatia, talvez até subconsciente. De onde se vê bem que não é o interesse que dirige a História, e que esta não é primordialmente um conflito de interesses, mas de princípios, uma luta entre a Verdade e o erro, entre o Bem e o mal, entre a Luz e as trevas.

O papel do demônio
Qual é o papel do demônio nesta luta? Ou, ao menos, qual sua ação no fenômeno descrito por São João Bosco?
No texto citado o Santo admite claramente, como plausível, a ação preternatural. De nossa parte, estamos persuadidos de que esta é imensa. Mas este aspecto do problema não faz parte do tema deste artigo, no qual quisemos esboçar brevemente os contornos psicológicos de ordem natural, que operam por si próprios, mas sobre os quais o demônio pode ter influência, atuar com freqüência e com terrível eficácia, para fazer dos homens instrumentos e vítimas da Revolução, da qual ele foi o primeiro fautor e continua sendo o fator principal.



quarta-feira, 12 de julho de 2017

AULA DE HISTÓRIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA



Até a segunda grande guerra mundial restos do Ancién Regime e da antiga nobreza permaneciam vivos na Europa, embora claudicantes e em vias de extinção. Era este o desenrolar da história desde 1789 quando a Revolução iniciada na França começou o processo de demolição das monarquias tradicionais da Europa. Nas páginas do “Legionário”, Dr. Plinio dá uma aula de considerações históricas sobre o iminente desaparecimento de duas dinastias seculares, a dos Habsburgs (na Áustria) e a dos Hohenzollern (na Alemanha), cujos tritulares na época eram a Imperatriz Zita e o Kaizer Guilherme II.

O DESTINO TRÁGICO DE DUAS GRANDES DINASTIAS


Passou desapercebido para a maior parte dos leitores um fato que constitui o desenrolar de um pungente drama individual e dinástico, ao lado da grande tragédia da Revolução Espanhola.
A notícia foi lacônica. Informou apenas que a ex-Imperatriz Zita se dirigiu a San Sebastian, na Espanha, acompanhada do Príncipe Xavier de Bourbon.
Para os iniciados, porém, ela tem um sentido profundo.
A Imperatriz Zita é tia do Príncipe Xavier de Bourbon. E o Príncipe Xavier é atualmente um dos trunfos mais influentes da política espanhola.
Em meados do século passado, por razões dinásticas que seria supérfluo mencionar, a casa real da Espanha bifurcou-se em dois ramos. De um deles, que se manteve no poder até há pouco, descende Afonso XIII. Do outro ramo, descende o Príncipe Xavier de Bourbon. Ambos os ramos reivindicam para si o direito de ocupar o trono da Espanha. O ramo de Afonso XIII era liberal. O ramo do Príncipe Xavier, que chefiava o famoso partido carlista, era anti-liberal e profundamente católico. A este último ramo, diversas províncias da Espanha conservaram uma fidelidade comovedora. Especialmente, destacou-se nisto a heróica Navarra. E quando foi preciso revolucionar a Espanha, Franco pediu o auxílio dos partidários do Príncipe Xavier, que se levantaram em massas, constituindo o famoso exército de “requetés”, que marcha ao combate contra os comunistas, entoando hinos à Virgem Santíssima e à monarquia. É um imenso exército de cem mil homens, cada um dos quais é um herói disposto a morrer pela Espanha e pela Igreja.
O que caracteriza os “requetés” é uma inquebrantável disciplina ao Chefe da dinastia a que juraram fidelidade. Uma simples palavra de sua parte é suficiente para determinar os “requetés” a tomarem qualquer medida, por mais extremada que seja, no terreno político ou militar.
Acontece, porém, que o Príncipe Xavier é novo no difícil “mister” de Pretendente. Há pouco tempo que é herdeiro do Trono de Espanha, pois que herdou quase inesperadamente este direito do antigo Pretendente, o octogenário Príncipe Dom Afonso Carlos de Áustria e Este, que morreu sem descendência direta.
A imensa força política constituída pelos “requetés” parecia, pois, ameaçada de ficar sem direção, prejudicando assim as possibilidades de restauração da monarquia na Espanha.


PALADINO DE TRÊS TRONOS

É aí que surge a figura heróica e quase novelesca da Imperatriz Zita da Áustria-Hungria.
Vendo perigar os direitos de seu sobrinho, essa ex-soberana não hesita em atirar-se na fogueira do turbilhão revolucionário, dirigindo-se à Espanha para influir diretamente no rumo dos acontecimentos, parlamentando com diplomatas e generais, banqueiros e políticos, como se fosse ela própria pretendente ao Trono tradicional e glorioso de Isabel, a Católica.
A ex-Imperatriz Zita é uma figura que se tem imposto à admiração de todos os políticos europeus pelo vigor infatigável com que prossegue nas incessantes tentativas para a restauração do Trono de seu filho, o Arquiduque Otto de Habsburg.
Casada com o Imperador Carlos I da Áustria, a Imperatriz Zita foi destronada em 1918. Exilada na Suíça com seu esposo, ela organizou duas expedições armadas à Hungria, que fracassaram pela força das circunstâncias e pela pusilanimidade de Carlos I, com grande mágoa da belicosa soberana.
Depois da 2ª tentativa de restauração monárquica na Hungria, a família imperial austríaca foi expulsa para a Ilha da Madeira, onde o Imperador Carlos morreu tuberculoso na mais absoluta miséria.
Paupérrima, a ex-soberana se viu, de um momento para outro, colocada como viúva sem amparo, à testa da educação de seus pequenos filhos, reduzidos à mais absoluta indigência.
Foi então que se lhe estendeu a mão amistosa de Afonso XIII, que a acolheu na Espanha, dando-lhe por residência um castelo condigno de sua alta situação.
Durante alguns anos, Zita não deu a falar de si. Mal o Arquiduque Otto saiu da infância para a mocidade, a irrequieta soberana começa novamente a se movimentar. Mudou-se para a Bélgica, onde Alberto I lhe deu um castelo. O Governo austríaco restitui-lhe grande parte da fortuna antiga, confiscada pela República. E o partido monarquista da Áustria começa novamente a medrar, sob a alta orientação da Imperatriz, a ponto de fazer dela um dos mais importantes trunfos da política da Europa Central.
Tudo, pois, recomeçava a sorrir na vida da desditosa soberana. Voltara-lhe a fortuna. Voltara-lhe a influência. Seu filho, já agora um adolescente de grande formosura e alto preparo intelectual, auxiliava eficientemente seus planos. E a restauração monárquica na Áustria a na Hungria começava a parecer cada vez mais próxima.
Nesta situação risonha, abre-se a fogueira espanhola. E a Imperatriz Zita não hesitou em brincar mais uma vez com o fogo da política...
Paladina da restauração das tradicionais coroas da Áustria e da Hungria para o seu filho, ela começa agora a trabalhar pela restauração de seu sobrinho.
Não é difícil que um insucesso amargo venha coroar de espinhos os esforços da Imperatriz.
Entretanto, quando um dia se fizer a história de nosso século, os historiadores se inclinarão com respeito diante dessa figura excepcional de mulher que, tendo caído do alto do trono mais antigo da Europa, reergueu-se corajosamente para enfrentar os acontecimentos que lhe eram adversos. Soube ela fazer pela causa da monarquia na Europa, a qual é absolutamente dedicada por um puro idealismo e não por um interesse vulgar, muito mais do que os inúmeros soberanos, ex-soberanos ou pretendentes do mundo inteiro.
Ela é, nestes século de materialismo grosseiro, uma figura enérgica e idealista, que merece o maior respeito de todos os observadores.
É possível que com o eventual insucesso de seus esforços, a dinastia dos Habsburg desapareça inteiramente da História. Mas se isto se der, a Imperatriz Zita terá sido um feixo de ouro na série dos soberanos austríacos, em nada inferior às grandes tradições de Carlos V, Felipe II e Maria Teresa.
E se, pelo contrário, ela conseguir seus objetivos, a História a aclamará como uma das maiores realizadoras, no século dos super-homens, dos estados fortes, das “camorras internacionais”, etc.
* * *
Muito diversa é a história dos Hohenzollern.
Atirado à Holanda pelos sucessos que determinaram a queda do Império Alemão, o ex-Kaiser Guilherme II não teve de lutar muito contra a miséria. Nunca lhe faltou, como a Zita, um teto condigno de sua posição. Mais tarde, o Governo alemão lhe restituiu sua imensa fortuna, e ele passou a ser um dos homens mais ricos da Europa. Em seu castelo de Doorn, mantém uma pequena corte, e um luxo principesco. De costumes pessoais muito austeros, o Kaiser nunca forneceu matéria para o noticiário sensacional das agências telegráficas, que  tanto se ocupam com o Duque de Windsor e o Conde de Covadonga. Mas sua vida de exilado tem decorrido sem lances heróicos. O antigo general que figurava à testa de imensos exércitos nas grandes paradas alemãs, parece ter perdido inteiramente sua fibra de guerreiro.
É certo que os partidários da monarquia, na Alemanha, não cessam de trabalhar.
Mas as monarquias foram, na Alemanha, vítimas de um bluf que não iludiu a fina diplomacia da Imperatriz Zita e dos católicos austríacos.
Este bluf foi o hitlerismo. Hitler, até subir no poder, alimentou as esperanças dos monarquistas com vivos ataques à democracia liberal, e com vagas frases de simpatia ao antigo regime.
Os príncipes da Casa dos Hohenzollern se deixaram enlear por essa manobra. Alguns deles se inscreveram nas fileiras nazistas e chegaram a ocupar, sob o comando do ex-pintor Adolph Hitler, altos postos na Hierarquia do partido. Houve tempo em que o ex-Kronprinz era figura obrigatória em todas as paradas e desfiles nazistas.
Muita gente supunha - e os Hohenzollern mais do que ninguém - que a restauração da monarquia estava por pouco.
Mas Hitler subiu ao poder. E em lugar da política de Monk, adotou a de Cromwell, exceção feita da decapitação. A restauração foi tardando. Aos poucos, o Kronprinz foi sendo posto à margem. Medidas socialistas começaram a ameaçar os proprietários de terras, quase todos aristocratas fiéis à monarquia. Enquanto isto, os grande industriais ligados à finança internacional ficavam com as mãos livres.
Finalmente o hitlerismo se definiu: era anti-liberal, mas não anti-democrático. Do tríptico da Revolução Francesa consentia em suprimir a liberté. Nunca, porém, a égalité.
Ora, quem fala em igualdade fala em supressão de privilégios. E, portanto, em proscrição da aristocracia e combate à monarquia.
Com isto, o hitlerismo arrancou a máscara que vinha usando para iludir os monarquistas. Guilherme II percebeu que o trono estava bem distante de suas mãos.
É provável que um véu de melancolia se tenha estendido, então, sobre a velhice desse imperial ancião. Deixando-se iludir por Hitler, ele consentiu em que seus partidários abraçassem o nazismo. E o nazismo empolgou de tal maneira os monarquistas, que muitos deles abandonaram definitivamente o I Reich pelo III Reich.
Menos enérgico do que Zita, Guilherme II nunca soube tentar um golpe de Estado, ou ao menos instigar à distância seus partidários a que o fizessem. Apenas se assinala um movimento na Baviera, de proporções insignificantes.
Menos hábil, Guilherme II se deixou iludir pelos nazistas, enquanto os monarquistas austríacos moviam guerra de morte ao fascismo que se infiltrava na Áustria, percebendo nele o lobo socialista sob a pele do cordeiro reacionário.
E a dinastia dos Hohenzollern vê afastar-se, na bruma das complicações políticas, as melhores possibilidades de restauração.
Esses erros têm desgostado profundamente os monarquistas alemães. E muitos pensam em substituir a dinastia dos Hohenzollern pela dos Wittelsbach, que reinavam na Baviera.
Com isto, o trono iria parar nas mãos do cavalheiresco e heróico príncipe Ruprecht da Baviera, um dos grandes heróis de guerra, popularíssimo na Alemanha.
E os Hohenzollern cairiam em uma penumbra definitiva.

(Plínio Corrêa de Oliveira -  “Legionário”, N.° 247, 6 de junho de 1937)