segunda-feira, 30 de março de 2009

Multidões continuam a protestar contra o aborto

O governo esquerdista espanhol está para aprovar a mais radical legislação abortista da Europa, a qual permitiria até menores de 16 anos a prática do crime do aborto. Não sem os protestos da população. Neste final de semana, foi realizada em Madri uma marcha gigante com meio de milhão de pessoas. Está sendo considerada como a maior marcha contrária ao aborto daquele país. Os próprios organizadores da marcha foram surpreendidos pela quantidade de manifestantes, pois esperavam uma aglomeração de apenas 100 mil pessoas. Na manifestação viam-se faixas com os dizeres "Não existe o direito de matar, existe o direito à viver". Terminada a marcha, Gádor Joya, médico pediatra e porta-voz de uma das que a organizaram, leu um manifesto demoninado "Manifesto pela Vida". Logo depois, outras personalidades tomaram a palavra, dentre os quais alguns deputados e senadores. Até mesmo um prócer socialista, Joaquim Manuel Montero, conselheiro socialista de Sevilha, resolveu aderir à manifestação. Outras cinquenta cidades da Espanha e de outros países íbero-americanos realizaram marchas semelhantes, alguns deles no dia 25 de março, considerado o Dia Internacional pela Vida.
Também no Brasil
Neste sábado, 29, iniciou-se às 10, na praça da Sé (SP), o 2º Ato Público em Defesa da Vida. O ato é promovido pelo Comitê Estadual do Movimento em Defesa da Vida – Brasil sem Aborto e conta com apoio e participação de diversas entidades representativas da sociedade civil, lideranças religiosas e políticas envolvidos na causa. Desde 1991 tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei (PL) 1135/91 que legaliza o aborto no país.
De acordo com o Comitê Estadual do Movimento em Defesa da Vida – Brasil sem Aborto, que promove o evento, trata-se de uma manifestação "supra-partidária, supra-religiosa, para reafirmar que a população brasileira, em sua esmagadora maioria, é contra a legalização do aborto no país". A última pesquisa divulgada pelo Datafolha, por exemplo, revelou que 87% dos entrevistados se posicionaram contra o aborto. Legalizar a prática é um desrespeito ao povo brasileiro e a Constituição que garante o direito à vida desde a concepção, segundo os organizadores. De acordo com a coordenadora estadual do Movimento, a advogada Marília de Castro, o evento "é fundamental para que a opinião pública se posicione contra as propostas de descriminalização do aborto que tramitam no Congresso Nacional". Para as entidades que defendem a vida, cabe ao governo promover políticas públicas em defesa da maternidade, da paternidade responsável, da criança, do adolescente e da família e não trabalhar pela legalização do aborto no país."Se eleitores e grupos próvida não quiserem ver aprovadas, por exemplo, leis favoráveis ao aborto, o Congresso Nacional deve estar sob vigilância e 'pressão' popular. Embora o Legislativo contenha frente em defesa da vida, os parlamentares 'em cima do muro' são maioria e podem decidir por legislação que represente a eliminação de seres humanos, diz o ativista Paulo de Heráclito Filho. Em 2007, mais de 11 mil pessoas estiveram na Praça da Sé para dizer "não" a descriminalização do aborto e "sim" a favor da vida. O ato ecoou por todo o país e se espalhou por diversas cidades, dando origem a manifestações, caminhadas e atos públicos semelhantes, culminando com a grande Marcha Nacional da Cidadania em Defesa da Vida - Contra a Legalização do Aborto, realizada em Brasília, com mais de 20 mil pessoas.
Governo brasileiro também favorece o aborto
Em entrevista concedida ao jornal ‘O Globo', o assessor da Comissão Vida e Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Luiz Antônio Bento, afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, tem adotado uma política pró-aborto.
"A Igreja Católica é contrária a qualquer forma de agressão à vida. A missão da medicina é salvar vidas, não matar", salientou padre Luiz Antônio Bento, acrescentando que o Estado tem que adotar uma "política familiar que ajude a formar para o sentido da sexualidade".
"Não é coisa de um chefe de nação (jogar camisinha para todo mundo)", criticou o assessor da CNBB, referindo-se à distribuição de preservativos promovida pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e pelo secretário estadual de Saúde do Rio de Janeiro, Sérgio Côrtes, durante o desfile das Escolas de Samba. "O presidente tem que respeitar valores impregnados na sociedade".
Ainda segundo o prelado, se o ministro da Saúde sabe quantas clínicas abortivas existem no país, "deveria denunciar". "O aborto no Brasil só não está legalizado oficialmente, mas o Estado tem feito uma política de aborto e de amparo às (mulheres) que querem abortar. Não é verdade que legalizar (o aborto) vai beneficiar os pobres", observa.
A favor de quê está a mídia?
Se tantas multidões manifestam-se contra o aborto em diversas partes do mundo, demonstrando que a legislação abortista é impopular, além de ser antinatural e desumana, como se explica o silêncio da grande mídia em torno destes eventos? A suposta imparcialidade dos jornalistas, que dizem procurar auscultar indistintamente o que pensa a opinião pública, não passa de hipocrisia. No fundo, eles são favoráveis ao aborto e, como tática de ação, resolvem se omitir sobre as grandes manifestações pela vida. Se, pelo contrário, sair às ruas um magote de megeras abortistas (não precisa ser mais do que 30 ou 40), no mesmo dia vai ser notícia de destaque tantos nos jornais quanto nas TVs.
Quer conferir? Veja o noticiário de hoje.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Aborto, a realidade sem disfarce


Com o título “A vitória será da vida” a Fundação EUK Mamie na Espanha apresenta um DVD que informa sobre a realidade do aborto.
Em que consiste realmente um aborto? Por que aumentou vertiginosamente o número de abortos no mundo nos últimos meses? Que interesses existem por detrás desta promoção e o que é que podemos fazer? Com o título “A vitória será da vida” a Fundação EUK Mamie na Espanha apresenta uma nova produção que oferece respostas a algumas destas perguntas. Com um DVD que informa sobre a realidade do aborto, o tema é tratado com um tom positivo e cheio de esperança, à semelhança do tom com que o Servo de Deus, João Paulo II, escreveu a Encíclica "Evangelium vitae". De fato o título foi tomado dos números 25 e 26 deste documento: “A vitória será da vida […] Na realidade, não faltam prenúncios desta vitória.”A responsável pela Televisão H.M., a Irmã Teresa Pérez do “Hogar de la Madre” disse que a ideia de lançar uma nova produção nasceu “ante a inquietante realidade de ameaça contra a vida humana não só em Espanha mas a nível mundial.”Atualmente debate-se na Espanha a ampliação da lei do aborto, que no caso de ser aprovada será uma das leis abortivas mas radicais e violentas da Europa. Por esta razão, numerosos responsáveis de movimentos a favor da vida e da família quiseram participar no vídeo. Realizou-se mil cópias do DVD para distribuir de forma gratuita; também está disponível no site da Fundação: http://www.hogardelamadre.org/ ou www.eukmamie.org/index.php/television.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Águia, símbolo da confiança em Deus

Um pouco da face oculta de Obama


Quase nada se disse, pelo menos na grande mídia brasileira, sobre a verdadeira face mistificadora do novo presidente americano. Eleito pelas forças ocultas e pela mídia como o "messias", o "redentor" do povo americano, na realidade estamos diante da monstruosa face de um inimigo da vida, um propugnador da imoralidade e do amor-livre, do aborto e de tantos outros desvios morais da modernidade. Já no início de seu governo começou sua investida contra a vida humana autorizando as experiências com embriões humanos, uma bomba que vai matar muito mais gente (antes mesmo de nascer) do que qualquer guerra no Oriente deflagrada por Bush. Já tratamos do assunto em nossa postagem anterior "Obama, o novo "messias" do socialismo e do amor-livre", é só clicar aqui e vê.
Vejamos uma tímida levantada deste véu que encobre a verdadeira face de Obama ainda no ano passado, 8 de junho, pelo jornal "O Estado de São Paulo" ao publicar artigo do jornalista Pedro Doria. Precisamos saber mais sobre a face oculta deste homem:


"Seus pais e avós fugiram de qualquer identidade cultural. Então o candidato democrata teve de criar a sua própria. Em março, quando os primeiros sermões raivosos do homem que foi seu pastor por tantos anos começaram a aparecer na televisão, Barack Obama se pôs perante as câmeras para fazer aquele que é hoje considerado o discurso mais importante desta campanha. O discurso sobre raça foi proferido com veemência e elegância durante quase 40 minutos. Obama é o candidato dos discursos, das palavras bem colocadas, entonação perfeita e carisma ímpar. Conseguiu transformar um discurso político de 40 minutos no campeão de audiência do YouTube por uma semana.Para alguns analistas, aí está a marca do demagogo: palavras bonitas que conquistam o eleitorado pelo coração. Mas quem presta atenção nas palavras percebe que o estilo não é o de falar aquilo que o público quer ouvir. “Quando brancos sabem que um afro-americano conseguiu uma vaga na universidade por causa de uma injustiça cometida em gerações passadas, quando brancos são acusados de racismo por conta de seus medos concretos da criminalidade urbana, é natural que surja ressentimento”, disse a seus eleitores negros naquele discurso. Para falar das feridas criadas pela questão racial nos EUA, não desculpou ninguém. Esse tipo de desafio a quem o ouve é comum em Obama.Para um grupo de exilados cubanos em Miami, no último dia 23, Obama relatou que planejava reativar os canais de diplomacia com o governo de Raúl Castro, cogitando até o fim do embargo em troca da liberação de prisioneiros políticos. “Sei que não é o que vocês querem ouvir.” A um grupo de plantadores de milho no interior de seu Estado, disse que como senador poderia até lutar pelo subsídio que os protege, mas isso não adiantaria por muito tempo. “O problema é que o etanol brasileiro é muito mais barato que o nosso”, explicou. “Vocês terão que encontrar opções mais eficientes.”No mundo que Barack Obama vê e descreve há desafios para todos. Essa sua visão nasce de sua história pessoal - uma história que começa com fugas.Seu avô paterno foi criado no interior do Quênia durante o Império Britânico. Viveu entre a estrutura tribal de sua pequena comunidade e o desejo de ser ocidental, descreve Obama em seu primeiro livro, A Origem dos meus Sonhos. Abandonou as roupas coloridas da tradição e vestiu a dos europeus. Serviu como cozinheiro em um navio da Marinha britânica durante a 2ª Guerra. Seu filho Barack Hussein Obama Sr, pai do candidato, foi mais longe: descobriu-se ateu, abandonou o islamismo de seu clã e mudou-se para o Havaí, onde conheceu uma moça branca com quem casou. Formou-se em economia por Harvard. Divorciou-se. De volta a seu país, serviu na alta hierarquia do governo sem jamais conseguir modernizar a estrutura social do Quênia como queria. Alcoólatra, sofreu de problemas de circulação que lhe custaram uma das pernas antes de sua morte prematura, em 1982, aos 46 anos.Também o avô materno de Obama buscava algum tipo de transformação íntima. Natural do Kansas, seguiu o sonho americano de uma nova vida em direção ao Oeste. Veterano da 2ª Guerra, pingou de emprego em emprego com mulher e filha, primeiro no Texas, depois Califórnia, Estado de Washington e, finalmente, Havaí. Sua filha, Ann Dunham, manteve essa busca por uma reinvenção pessoal. O primeiro marido foi um queniano, pai de Obama, que a abandonou. O segundo era da Indonésia, para onde Ann se mudou com o filho Barack muito menino. Separada novamente, Ann morreu de câncer, aos 52 anos.Criança, Obama viveu com a mãe na Indonésia, estudando numa escola internacional católica, depois numa islâmica. Ann não ligava para religião. Mas aí, com 13 anos, Obama quis estabilidade: adolescente, foi morar com os avós no Havaí. Para os colegas americanos, era, como se descreveria anos depois, “um menino magrelo com o nome engraçado”. Em seu livro, descreveu um envolvimento autodestrutivo com drogas - maconha, depois cocaína. À imprensa, os amigos do tempo disseram que Obama fumou, cheirou, mas não foi nada sério. Bom aluno, ganhou uma bolsa para a Universidade Colúmbia, em Nova York, onde estudou ciência política e relações internacionais. E, quando foi procurar emprego, escolheu um de assistente social em Chicago, no lado sul da cidade, conhecido pela influente comunidade negra.Aos 22 anos, Barack Hussein Obama sentia-se um fruto de famílias em fuga que rejeitavam o passado. A seus olhos, nem os pais nem os avós foram felizes. E lá estava ele, um rapaz negro criado por brancos, chegando a um lugar novo. De volta ao Meio Oeste que seu avô abandonara, ele buscaria uma raiz, uma tradição. E duas pessoas o apresentaram a ela.O primeiro foi Jeremiah Wright, pastor da Trinity United Church of Christ. Wright o ensinou sobre ser negro nos EUA, ofereceu uma base religiosa, apresentou Obama à comunidade e o influenciou na maneira de falar em público. A segunda pessoa foi sua mulher, Michelle. Com ela e os sogros, ele conheceu a vida de uma típica família estável da classe média negra. Já era este seu mundo quando se formou em direito, em 91, pela Universidade Harvard, considerada a melhor do mundo.Quando, anos mais tarde, condenou a Guerra do Iraque, ele argumentaria com base nas conclusões que tirou da vida. Seus pais tentaram se reinventar abandonando as tradições e, no processo, perderam a própria identidade. A tradição é o que dá liga à sociedade. Perante a mudança, a tradição sempre resiste. Mudança, na história, vem a passos lentos. Para ele, há ingenuidade no ideal do sonho americano de que idéias, por si, causam grandes mudanças. Idéias não bastam. Barack Obama, como o descreveu Larissa MacFarquhar num perfil para a revista The New Yorker, “é profundamente conservador”. Democracia não seria simplesmente imposta num país onde ela jamais existira.Obama é conservador na maneira de ver o mundo e a sociedade, mas um político que segue fielmente a tradição social da esquerda americana. Eleito em 1996 para o Senado Estadual de Illinois, propôs 233 leis sobre saúde pública (incluindo a tentativa de implantar um sistema universal, que foi rejeitado), 125 dedicando recursos para assistência social e 112 tratando de criminalidade, como programas de reintegração à sociedade, o alívio de penas para certos crimes e maior controle na venda de armas. Nas 823 leis que apresentou, mais da metade se inclui nesses três grupos.No Senado dos EUA, onde atua desde 2005, se mostrou protecionista - vem de um Estado agrícola - e favorável a facilitar a vida dos imigrantes, mesmo os ilegais. É a favor do aborto, mas não rejeita de todo a pena de morte, que considera justa para os casos mais brutais, que choquem a sociedade. Votou a favor de planos de educação sexual e distribuição de contraceptivos para adolescentes, quer um projeto agressivo para cortar a emissão de carbono e deseja retirar as forças americanas do Iraque para investir na luta contra a Al-Qaeda no Afeganistão e Paquistão.A campanha presidencial apenas começou. Não foi sem dor que ele renegou seu pastor, quase uma figura paterna, há um mês. Seu adversário republicano, John McCain, o atacará em sua disposição de negociar com ditadores, explorará sua pouca experiência em política exterior e tentará mostrar que, hábil com as palavras, Obama seduz sem substância. Também deve apresentá-lo como um radical da política negra. A proximidade com o pastor Wright torna a insinuação crível. A amizade com o casal Bernardine Dohrn e William Ayers, terroristas de esquerda nos anos 60, reforça a tese. Não bastasse, ainda há o fantasma de Tony Rezko, um de seus primeiros financiadores políticos, condenado em maio por corrupção.A campanha presidencial de Obama é conduzida por um ex-repórter da editoria de política do jornal The Chicago Tribune, David Axelrod. Ele pretende driblar a discussão contando e recontando a história pessoal do candidato. Ao New York Times, explicou que “a história de Barack é a personificação de sua mensagem para o país, a de que com tenacidade podemos vencer as barreiras que nos dividem”. A candidatura, segundo Axelrod, é essencialmente uma aposta de que, mesmo lentamente, a história caminha para a frente e os EUA são, sim, capazes de eleger um presidente negro.É só com sutileza que Obama trará a questão racial para a campanha. Tão logo ficou claro que seria o candidato, McCain o convidou para uma série de debates informais, ao vivo, perante grupos de eleitores em todo o país, como haviam combinado de fazer, em 1963, John Kennedy e Barry Goldwater. Obama disse que gostou da idéia, mas sugeriu que seguissem o modelo estabelecido, antes da Guerra Civil, por Abraham Lincoln e Stephen Douglas. Na verdade, são modelos iguais. Mas Lincoln foi o libertador dos escravos nos EUA. E um político de Illinois. Obama sublinha a idéia de ser sucessor natural do velho presidente.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Novo depoimeno traz mais luzes sobre o aborto da menor em Pernambuco

Na edição de hoje (23 de março) do jornal "A Tarde", de Salvador, está estampado interessante artigo de Carlos Alberto di Franco, Diretor do Master em Jornalismo e membro leigo do Opus Dei, onde é feita contundente e serena crítica aos órgãos de imprensa sobre a forma como tratam os assuntos relacionados à nossa religião Católica. De modo particular, o articulista se refere à forma como distorceram as palavras de Dom José Cardoso Sobrinho sobre o aborto de gêmeos feitos em Pernambuco. De outro lado, ontem, a TV Bandeirantes promoveu uma espécie de debate sobre o tema entre o teólogo católico Antonio Marchioni e o conhecido abortista e charlatão metido a "cientista", Elsimar Coutinho. O filósofo e teólogo, acostumando a conviver com o raciocínio lógico, respondeu satisfatoriamente todas as perguntas capciosas feitas tanto pelos jornalistas quanto pelo charlatão baiano. Este último, porém, enrolou-se em questiúnculas bobas (como ao dizer que a Igreja afirma que uma célula é uma vida humana e outras bobagens sem respaldo na realidade) e deu claras demonstrações de ignorância filosófica e moral.
Enquanto na mídia ainda ecoam as reações mais diversas sobre o pronunciamento do arcebispo de Olinda e Recife, um depoimento que circula na internet traz mais luzes sobre o episódio. Vejam o texto abaixo:
GRÁVIDA DE GÊMEOS EM ALAGOINHA
O lado que a imprensa deixou de contar
Há cerca de oito dias, nossa cidade foi tomada de surpresa por uma trágica notícia de um acontecimento que chocou o país: uma menina de 9 anos de idade, tendo sofrido violência sexual por parte de seu padrasto, engravidou de dois gêmeos. Além dela, também sua irmã, de 13 anos, com necessidade de cuidados especiais, foi vitima do mesmo crime. Aos olhos de muitos, o caso pareceu absurdo, como de fato assim também o entendemos, dada a gravidade e a forma como há três anos isso vinha acontecendo dentro da própria casa, onde moravam a mãe, as duas garotas e o acusado.
O Conselho Tutelar de Alagoinha, ciente do fato, tomou as devidas providências no sentido de apossar-se do caso para os devidos fins e encaminhamentos. Na sexta-feira, dia 27 de fevereiro, sob ordem judicial, levou as crianças ao IML de Caruaru-PE e depois ao IMIP (Instituto Médico Infantil de Pernambuco), de Recife a fim de serem submetidas a exames sexológicos e psicológicos. Chegando ao IMIP, em contato com a Assistente Social Karolina Rodrigues, a Conselheira Tutelar Maria José Gomes, foi convidada a assinar um termo em nome do Conselho Tutelar que autorizava o aborto. Frente à sua consciência cristã, a Conselheira negou-se diante da assistente a cometer tal ato. Foi então quando recebeu das mãos da assistente Karolina Rodrigues um pedido escrito de próprio punho da mesma que solicitava um “encaminhamento ao Conselho Tutelar de Alagoinha no sentido de mostrar-se favorável à interrupção gestatória da menina, com base no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e na gravidade do fato”. A Conselheira guardou o papel para ser apreciado pelos demais Conselheiros colegas em Alagoinha e darem um parecer sobre o mesmo com prazo até a segunda-feira dia 2 de março. Os cinco Conselheiros enviaram ao IMIP um parecer contrário ao aborto, assinado pelos mesmos. Uma cópia deste parecer foi entregue à assistente social Karolina Rodrigues que o recebeu na presença de mais duas psicólogas do IMIP, bem como do pai da criança e do Pe. Edson Rodrigues, Pároco da cidade de Alagoinha.
No sábado, dia 28, fui convidado a acompanhar o Conselho Tutelar até o IMIP em Recife, onde, junto à conselheira Maria José Gomes e mais dois membros de nossa Paróquia, fomos visitar a menina e sua mãe, sob pena de que se o Conselho não entregasse o parecer desfavorável até o dia 2 de março, prazo determinado pela assistente social, o caso se complicaria. Chegamos ao IMIP por volta das 15 horas. Subimos ao quarto andar onde estavam a menina e sua mãe em apartamento isolado. O acesso ao apartamento era restrito, necessitando de autorização especial. Ao apartamento apenas tinham acesso membros do Conselho Tutelar, e nem tidos. Além desses, pessoas ligadas ao hospital. Assim sendo, à área reservada tiveram acesso naquela tarde as conselheiras Jeanne Oliveira, de Recife, e Maria José Gomes, de nossa cidade.
Com a proibição de acesso ao apartamento onde menina estava, me encontrei com a mãe da criança ali mesmo no corredor. Profunda e visivelmente abalada com o fato, expôs para mim que tinha assinado “alguns papéis por lá”. A mãe é analfabeta e não assina sequer o nome, tendo sido chamada a pôr as suas impressões digitais nos citados documentos.
Perguntei a ela sobre o seu pensamento a respeito do aborto. Valendo-se se um sentimento materno marcado por preocupação extrema com a filha, ela me disse da sua posição desfavorável à realização do aborto. Essa palavra também foi ouvida por Robson José de Carvalho, membro de nosso Conselho Paroquial que nos acompanhou naquele dia até o hospital. Perguntei pelo estado da menina. A mãe me informou que ela estava bem e que brincava no apartamento com algumas bonecas que ganhara de pessoas lá no hospital. Mostrava-se também muito preocupada com a outra filha que estava em Alagoinha sob os cuidados de uma família. Enquanto isso, as duas conselheiras acompanhavam a menina no apartamento. Saímos, portanto do IMIP com a firme convicção de que a mãe da menina se mostrava totalmente desfavorável ao aborto dos seus netos, alegando inclusive que “ninguém tinha o direito de matar ninguém, só Deus”.
Na segunda-feira, retornamos ao hospital e a história ganhou novo rumo. Ao chegarmos, eu e mais dois conselheiros tutelares, fomos autorizados a subirmos ao quarto andar onde estava a menina. Tomamos o elevador e quando chegamos ao primeiro andar, um funcionário do IMIP interrompeu nossa subida e pediu que deixássemos o elevador e fôssemos à sala da Assistente Social em outro prédio. Chegando lá fomos recebidos por uma jovem assistente social chamada Karolina Rodrigues. Entramos em sua sala eu, Maria José Gomes e Hélio, Conselheiros de Alagoinha, Jeanne Oliveira, Conselheira de Recife e o pai da menina, o Sr. Erivaldo, que foi conosco para visitar a sua filha, com uma posição totalmente contrária à realização do aborto dos seus netos. Apresentamo-nos à Assistente e, ao saber que ali estava um padre, ela de imediato fez questão de alegar que não se tratava de uma questão religiosa e sim clínica, ainda que este padre acredite que se trata de uma questão moral.
Perguntamos sobre a situação da menina como estava. Ela nos afirmou que tudo já estava resolvido e que, com base no consentimento assinado pela mãe da criança em prol do aborto, os procedimentos médicos deveriam ser tomados pelo IMI dentro de poucos dias. Sem compreender bem do que se tratava, questionei a assistente no sentido de encontrar bases legais e fundamentos para isto. Ela, embora não sendo médica, nos apresentou um quadro clínico da criança bastante difícil, segundo ela, com base em pareceres médicos, ainda que nada tivesse sido nos apresentado por escrito.
Justificou-se com base em leis e disse que se tratava de salvar apenas uma criança, quando rebatemos a idéia alegando que se tratava de três vidas. Ela, desconsiderando totalmente a vida dos fetos, chegou a chamá-los em “embriões” e que aquilo teria que ser retirado para salvar a vida da criança. Até então ela não sabia que o pai da criança estava ali sentado ao seu lado. Quando o apresentamos, ela perguntou ao pai, o Sr. Erivaldo, se ele queria falar com ela. Ele assim aceitou. Então a assistente nos pediu que saíssemos todos de sua sala os deixassem a sós para a essa conversa. Depois de cerca de vinte e cinco minutos, saíram dois da sala para que o pai pudesse visitar a sua filha. No caminho entre a sala da assistente e o prédio onde estava o apartamento da menina, conversei com o pai e ele me afirmou que sua idéia desfavorável ao aborto agora seria diferente, porque “a moça me disse que minha filha vai morrer e, se é de ela morrer, é melhor tirar as crianças”, afirmou o pai quase que em surdina para mim, uma vez que, a partir da saída da sala, a assistente fez de tudo para que não nos aproximássemos do pai e conversássemos com ele. Ela subiu ao quarto andar sozinha com ele e pediu que eu e os Conselheiros esperássemos no térreo. Passou-se um bom tempo. Eles desceram e retornamos à sala da assistente social. O silêncio de que havia algo estranho no ar me incomodava bastante. Desta vez não tive acesso à sala. Porém, em conversa com os conselheiros e o pai, a assistente social Karolina Rodrigues, em dado momento da conversa, reclamou da Conselheira porque tinha me permitido ver a folha de papel na qual ela solicitara o parecer do Conselho Tutelar de Alagoinha favorável ao aborto e rasgou a folha na frente dos conselheiros e do pai da menina. A conversa se estendeu até o final da tarde quando, ao sair da sala, a assistente nos perguntava se tinha ainda alguma dúvida. Durante todo o tempo de permanência no IMIP não tivemos contato com nenhum médico. Tudo o que sabíamos a respeito do quadro da menina era apenas fruto de informações fornecidas pela assistente social. Despedimo-nos e voltamos para nossas casas. Aos nossos olhos, tudo estava consumado e nada mais havia a fazer.
Dada a repercussão do fato, surge um novo capítulo na história. O Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife, Dom José Cardoso, e o bispo de nossa Diocese de Pesqueira, Dom Francisco Biasin, sentiram-se impelidos a rever o fato, dada a forma como ele se fez. Dom José Cardoso convocou, portanto, uma equipe de médicos, advogados, psicólogos, juristas e profissionais ligados ao caso para estudar a legalidade ou não de tudo o que havia acontecido. Nessa reunião que se deu na terça-feira, pela manhã, no Palácio dos Manguinhos, residência do Arcebispo, estava presente o Sr. Antonio Figueiras, diretor do IMIP que, constatando o abuso das atitudes da assistente social frente a nós e especialmente com o pai, ligou ao hospital e mandou que fosse suspensa toda e qualquer iniciativa que favorecesse o aborto das crianças. E assim se fez.
Um outro encontro de grande importância aconteceu. Desta vez foi no Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, na tarde da terça-feira. Para este, eu e mais dois Conselheiros, bem como o pai da menina formos convidados naquela tarde. Lá no Tribunal, o desembargador Jones Figueiredo, junto a demais magistrados presentes, se mostrou disposto a tomar as devidas providências para que as vidas das três crianças pudessem ser salvas. Neste encontro também estava presente o pai da criança. Depois de um bom tempo de encontro, deixamos o Tribunal esperançosos de que as vidas das crianças ainda poderiam ser salvas.
Já a caminho do Palácio dos Manguinhos, residência do Arcebispo, por volta das cinco e meia da tarde, Dom José Cardoso recebeu um telefonema do Diretor do IMIP no qual ele lhe comunicava que um grupo de uma entidade chamada Curumins, de mentalidade feminista pró-aborto, acompanhada de dois técnicos da Secretaria de Saúde de Pernambuco, teriam ido ao IMIP e convencido a mãe a assinar um pedido de transferência da criança para outro hospital, o que a mãe teria aceito. Sem saber do fato, cheguei ao IMIP por volta das 18 horas, acompanhado dos Conselheiros Tutelares de Alagoinha para visitar a criança. A Conselheira Maria José Gomes subiu ao quarto andar para ver a criança. Identificou-se e a atendente, sabendo que a criança não estava mais na unidade, pediu que a Conselheira sentasse e aguardasse um pouco, porque naquele momento “estava havendo troca de plantão de enfermagem”. A Conselheira sentiu um clima meio estranho, visto que todos faziam questão de manter um silêncio sigiloso no ambiente. Ninguém ousava tecer um comentário sequer sobre a menina.
No andar térreo, fui informado do que a criança e sua mãe não estavam mais lá, pois teriam sido levadas a um outro hospital há pouco tempo acompanhadas de uma senhora chamada Vilma Guimarães. Nenhum funcionário sabia dizer para qual hospital a criança teria sido levada. Tentamos entrar em contato com a Sra. Vilma Guimarães, visto que nos lembramos que em uma de nossas primeiras visitas ao hospital, quando do assédio de jornalistas querendo subir ao apartamento onde estava a menina, uma balconista chamada Sandra afirmou em alta voz que só seria permitida a entrada de jornalistas com a devida autorização do Sr. Antonio Figueiras ou da Sra. Vilma Guimarães, o que nos leva a crer que trata-se de alguém influente na casa. Ficamos a nos perguntar o seguinte: lá no IMIP nos foi afirmado que a criança estava correndo risco de morte e que, por isso, deveria ser submetida ao procedimentos abortivos. Como alguém correndo risco de morte pode ter alta de um hospital. A credibilidade do IMIP não estaria em jogo se liberasse um paciente que corre risco de morte? Como explicar isso? Como um quadro pode mudar tão repentinamente? O que teriam dito as militantes do Curumim à mãe para que ela mudasse de opinião? Seria semelhante ao que foi feito com o pai?
Voltamos ao Palácio dos Manguinhos sem saber muito que fazer, uma vez que nenhuma pista nós tínhamos. Convocamos órgãos de imprensa para fazer uma denúncia, frente ao apelo do pai que queria saber onde estava a sua filha.
Na manhã da quarta-feira, dia 4 de março, ficamos sabendo que a criança estava internada na CISAM, acompanhada de sua mãe. O Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (FUSAM) é um hospital especializado em gravidez de risco, localizado no bairro da Encruzilhada, Zona Norte do Recife. Lá, por volta das 9 horas da manhã, nosso sonho de ver duas crianças vivas se foi, a partir de ato de manipulação da consciência, extrema negligência e desrespeito à vida humana.Isto foi relatado para que se tenha clareza quanto aos fatos como verdadeiramente eles aconteceram. Nada mais que isso houve. Porém, lamentamos profundamente que as pessoas se deixem mover por uma mentalidade formada pela mídia que está a favor de uma cultura de morte. Espero que casos como este não se repitam mais.
Ao IMIP, temos que agradecer pela acolhida da criança lá dentro e até onde pode cuidar dela. Mas por outro lado não podemos deixar de lamentar a sua negligência e indiferença ao caso quando, sabendo do verdadeiro quadro clínico das crianças, permitiu a saída da menina de lá, mesmo com o consentimento da mãe, parecendo ato visível de quem quer se ver livre de um problema.
Aos que se solidarizaram conosco, nossa gratidão eterna em nome dos bebês que a esta hora, diante de Deus, rezam por nós. “Vinde a mim as crianças”, disse Jesus. E é com a palavra desde mesmo Jesus que continuaremos a soltar nossa voz em defesa da vida onde quer que ela esteja ameaçada. “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham plenamente” (Jo, 10,10). Nisso cremos, nisso apostamos, por isso haveremos de nos gastar sempre. Acima de tudo, a Vida!
Pe. Edson Rodrigues
Pároco de Alagoinha-PE padreedson@hotmail.com (87) 3839.1473

quarta-feira, 18 de março de 2009

A menina, o aborto e a excomunhão

Está circulando pela Internet uma carta aberta, esclarecedora perante o Código de Direito Canônico, dos fatos recentes ocorridos em Pernambuco e que podem se repetir em outras localidades, haja vista a insistência dos abortistas em promovê-lo a qualquer custo.
Esclarecimentos sobre um fato recente
O estado da questão
Durante um bom número de dias, a mídia televisiva, falada e escrita tem dado especial destaque ao caso doloroso da menina de 9 anos, estuprada pelo padrasto em Alagoinha (Pernambuco), bem como à excomunhão em que teriam incorrido os responsáveis pelo aborto dos gêmeos, concebidos pela menina em decorrência do estupro.O noticiário e os comentários da mídia, de modo geral, enfatizaram a severidade do Arcebispo do Recife, por “ter excomungado” a mãe da menina e os médicos que realizaram o aborto; e, ao mesmo tempo, criticaram a suposta benignidade que o arcebispo teria mostrado em relação ao estupro.Baste citar, como exemplo disso os dois textos seguintes:- “O arcebispo Cardoso Sobrinho, que excomungou a mãe da menina” (pé da foto do prelado publicada num jornal de grande difusão)- “D. José defende não excomungar o padrasto da menina de nove anos que a estuprou” (manchete de mais de meia página em importante jornal).Pois bem. Nenhuma dessas duas afirmações é exata. Ambas contêm um erro, objetivamente são uma inverdade. Não se pretende aqui julgar a intenção nem a boa fé dos jornalistas que fizeram essas afirmações: como qualquer ser humano, podem precipitar-se e errar por ignorância. Mas parece necessário – a bem da verdade – facilitar algum esclarecimento especializado a respeito.
O Arcebispo de Recife excomungou alguém?
A resposta é: não. D. José Cardoso Sobrinho não puniu ninguém com excomunhão. Limitou-se a declarar que a mãe e os médicos diretamente responsáveis pelo aborto tinham incorrido numa pena automática prevista pela lei da Igreja. Com efeito, o cânon 1398 do Código de Direito Canônico vigente diz assim: «Quem provoca o aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae» (o que significa, na linguagem jurídico-canônica, “por sentença dada pela própria lei”, ou seja, é uma pena tipificada no Código em que se incorre automaticamente ao cometer o delito).
Significado das penas eclesiásticas
Antes de explicar em que consiste a excomunhão, parece-me necessário lembrar que as penas eclesiásticas (penas canônicas), têm – à diferença das penas da legislação comum – uma significação pastoral. Concretamente, visam, como tudo no direito da Igreja, o bem das almas, a salvação das almas (a salus animarum), que é o fim da Igreja, um fim espiritual. Essas penas têm, portanto, como finalidade proteger, salvaguardar, evitar que seja lesada a integridade espiritual e moral da comunidade dos fiéis católicos, e procurar o bem espiritual do próprio culpado, movendo-o ao arrependimento e à expiação.Tenha-se em conta, além disso, que as penas canônicas:
a) São aplicadas pela autoridade ou pela lei da Igreja exclusivamente aos fiéis católicos, uma vez que são os únicos sujeitos sobre os quais a Igreja tem jurisdição (Neste sentido, nem a lei nem a autoridade da Igreja podem interferir para nada nas atuações delituosas de membros de outras religiões, ou de pessoas sem nenhuma religião);
b) No direito, em geral, todas as “penas” consistem numa “privação” de bens (o Código Penal brasileiro prevê, p.e., como todos os Códigos penais, penas de privação de liberdade, de bens materiais, etc.). No caso da Igreja, ela só pode aplicar penas que privem de alguns “bens” próprios da Igreja, não da sociedade civil (p.e. privar dos Sacramentos, de funções de ministros sagrados, de cargos eclesiásticos, etc.).
Em que consiste a excomunhão?
Em primeiro lugar, a excomunhão é uma das três únicas penas que podem ser aplicadas automaticamente (latae sententiae) pela própria lei. Chamam-se, desde tempo imemorial, “penas medicinais” ou “censuras” (ver Código de Direito Canônico, cânones 1131 a 1135).Têm o nome de “medicinais” precisamente porque visam despertar a consciência do fiel que delinqüiu para a gravidade de sua atuação, e movê-lo assim ao arrependimento. E ao mesmo tempo, como dizia acima, visam defender a integridade da fé e da moral da comunidade católica.Como se vê, as “censuras” têm uma finalidade eminentemente espiritual. Mais ainda, se a excomunhão não foi declarada pela autoridade, pode até ficar restrita ao âmbito da consciência do fiel que nela incorreu (e que dela deverá tratar com seu confessor ou superior eclesiástico). Naturalmente, no momento em que o excomungado se arrepende pode obter com toda a facilidade, sem necessidade de nenhum processo judicial, a absolvição da censura e do pecado, seguindo as normas do direito (Ver cânones 1356 a 1358) .
Esta pena, prevista para pouquíssimos casos especialmente graves, consiste, segundo o cânon 1131, na proibição de:
1) exercer qualquer participação ministerial em cerimônias de culto (p.e., no caso dos leigos – que é o que agora se contempla –, ficam proibidos, enquanto não for absolvida a censura, de ser acólitos, ser ministros da Comunhão, ou leitores na Missa, etc.);
2) receber os sacramentos (Crisma, Penitência, Eucaristia, Unção, etc.);
3) exercer ofícios ou encargos eclesiásticos (p.e., ser juiz eclesiástico, administrador da Cúria, dirigente de uma pastoral paroquial ou diocesana, etc.).
Nota 1: Dado que o direito canônico indica que toda lei penal deve ser interpretada em sentido estrito, restritivo, a excomunhão não proíbe assistir à Missa (sem comungar, porém), nem participar junto com outros fiéis de orações e devoções que não constituam “cerimônias de culto”: por isso, subsiste a liberdade de participar, p.e., da prática coletiva de devoções não-litúrgicas, como o terço, de novenas, vigílias, etc.; também se pode continuar a ser membro de sociedades religiosas (mas sem ocupar cargos nelas).Nota 2: Na mente da Igreja, a pena de excomunhão não pressupõe em absoluto que o excomungado esteja excluído da salvação eterna. No direito penal, a Igreja julga atos externos e impõe penalidades externas (por isso, é doutrina comum que a pessoa excomungada que, depois de incorrer na pena, se arrepende sinceramente do pecado com propósito de se confessar, fica na hora em estado de graça diante de Deus). Este é o sentido do velho princípio que diz que, em matéria de direito, de internis non iudicat Ecclesia (A Igreja, no seu direito – que é um âmbito diferente do Sacramento da Penitência –, não julga o interior da alma).
Duas manifestações do espírito pastoral da lei eclesiástica
A) Condições para poder incorrer em pena eclesiástica :a) ter a idade penal canônica: 16 anos completos;b) existência de uma lei que puna o ato delituoso. Não pode haver arbitrariedade. O princípio geral – que só em casos gravíssimos, insólitos e urgentes, admitiria exceção (ver Cânon 1399) –, é o seguinte : nulla poena sine lege poenali (nenhuma pena pode ser aplicada se não está contemplada em lei penal prévia);c) que esse ato delituoso seja “pecado grave”: ou seja, um pecado em matéria grave, cometido com plena advertência e consentimento deliberado. Se, de acordo com a moral católica, avaliando-se o grau de responsabilidade de uma conduta ou pecado, este ato não pode ser considerado moralmente grave, não se incorre na pena.
B) O direito da Igreja, no caso das três censuras previstas no cânon 1331 (excomunhão, interdito – semelhante à excomunhão, mas com menos conseqüências – e suspensão de ordens e funções, no caso de bispos, padres ou diáconos), estabelece situações em que os que cometem o ato delituoso não incorrem na pena (limitamo-nos agora aos leigos, pois há diversas penas previstas para clérigos; p.e. um padre que viola o segredo da Confissão, fica excomungado latae sententiae):a) não incorrem na pena os menores de 16 anos, como já víamos;b) não incorre quem, sem culpa, ignorava estar violando uma lei, ou ignorava que havia uma pena anexa à lei. Se o ignorava em boa fé, não incorreu mesmo na pena (coisa que o direito comum, na sociedade civil, não admite);c) não incorre quem agiu impelido por medo grave, ainda que seja “relativo” (ou seja, medo que talvez não afetaria outros, mas afeta o interessado por circunstâncias pessoais), ou sob forte ímpeto emocional (de paixão), mesmo que isso não tenha impedido totalmente a deliberação da mente e o consentimento da vontade.Sobre essas isenções, tão amplas e benignas, ver os cânones 1323 e 1324 do Código de Direito Canônico.
Por que não foi excomungado o estuprador?
Depois do que já foi considerado, a resposta parece bastante óbvia.Como é natural, a Igreja não multiplica as excomunhões para todos e cada um dos crimes possíveis. Seria absurdo que previsse uma excomunhão para todos os delitos que o Código penal brasileiro contempla, alguns deles tão graves ou mais do que o crime de aborto (p.e. assassinar uma mãe e o bebê que carrega no colo, crime recentemente acontecido).Além disso, um bispo não dispõe, por assim dizer, de um estoque ilimitado de excomunhões para ir impondo-as arbitrariamente em qualquer caso grave. Também os bispos estão submetidos à lei eclesiástica e devem obedecê-la: princípio da “legalidade” penal.Por que, então, o aborto sim, e o assassinato, ou o estupro, ou o roubo à mão armada, ou o incêndio doloso, etc., não são punidos na lei geral da Igreja com excomunhão? Porque todos os fiéis católicos sabem, perfeitamente e sem a menor dúvida, que se trata de pecados graves, de crimes inclusive horrendos, abomináveis. Não há perigo, portanto, de que a consciência dos católicos seja, neste ponto, confundida ou desorientada. Ou seja, não há um perigo de engano ou de dano para a fé ou a moral da comunidade católica.Um exemplo claro disso. Quando se deu, em São Paulo, o lamentável caso da Escola Base, em que uma precipitação desinformada de uma parte da mídia televisiva e escrita divulgou uma calúnia que resultou na destruição moral, psíquica e financeira de toda uma família inocente, a Igreja não fulminou nenhuma excomunhão contra os jornalistas responsáveis pela divulgação da calúnia: o povo cristão não precisava disso, pois ficou evidente – ao se conhecer a verdade dos fatos – que aquela atuação de órgãos e elementos da mídia fora uma falta gravíssima.Pelo contrário, hoje em dia um pecado gravíssimo como o aborto – que, moralmente, não admite exceções –, pelo fato de ser defendido como lícito por juristas, professores, médicos, legisladores, e até mesmo aprovado pelas leis comuns, pode induzir os fiéis católicos ao equívoco de que “o que é legal é lícito, é moral”. Por isso, a penalização eclesiástica do aborto é uma atitude de zelo pastoral da Igreja, destinada a alertar, a manter incontaminada a consciência cristã em um tema de grande importância em que facilmente os fiéis poderiam ser levados a engano.
Pe. Francisco Faus
São Paulo, março de 2009

terça-feira, 17 de março de 2009

Considerações abalizadas e serenas sobre o caso do aborto da menor em Pernambuco

O Arcebispo de Recife está de parabéns, pois com seu alerta sobre a possibilidade de excomunhão dos fautores do aborto despertou a opinião pública e abriu os olhos de muita gente para a enormidade do crime que se havia praticado. É bem verdade que, de outro lado, despertou a fúria incontida dos favoráveis ao aborto, inclusivie toda a mídia que está expondo o prelado à execração pública, tanto pela distorção do que ele falou (ele não excomungou ninguém mas apenas advertiu do que prevê as leis da Igreja no caso) como da mensuração entre a gravidade do aborto e do estupro. Não só as leis canônicas da Igreja, mas também as leis civis punem com mais rigor o assassinato de pessoas do que o estupro. Por exemplo, hoje na Áustria está sendo julgado por estupro o famoso monstro que viveu em incesto por mais de vinte anos com a filha, com a qual teve alguns filhos. Pelo crime de estupro, segundo a mídia, ele pegaria apenas seis anos de cadeia, mas por causa de outros crimes poderá pegar pena maior. E o código penal brasileiro prevê pena maior também para o assassinato. Quer dizer, Dom José tinha razão quando disse que o aborto é um crime maior do que o estupro.
Vejam abaixo duas interessantes considerações sobre o caso. Acrescento, apenas, aos comentários da dra. Elizabeth que gravidez não é doença e não se justifica dizer que uma mulher grávida corre risco de vida, especialmene hoje quando a medicina está tão avançada e possui tantos recursos para salvar a gestante. Outra coisa que se precisa esclarecer, e o Ministério Público deve ser acionado: qual o método abortivo foi utilizado pelos médicos? será que foi o cytotec, conforme menciona a dra. Elizabeth, ou algum método traumático e até arriscado para a vida da gestante como o são todos os abortos?

1. Médica Ginecologista Obstetra dá seu parecer sobre aborto ocorrido em Recife:

Todo o fato é terrível - não é isso que se está discutindo - porém acho importante fazermos algumas reflexões pois o aborto não era a única nem a melhor solução:

a) Devem ter usado Cytotec (?) - que tem protocolo muito claro para tratamento de úlceras gástricas - não há experiência suficiente de seu uso em meninas de 9 anos grávidas (mesmo que tenham usado outra droga - sempre se está atirando meio no escuro pois é de se convir que é raro uma gravidez gemelar aos 9 anos) - portanto houve risco na indução do aborto;

b) A menina não corria risco de vida agora - não havia esta pressa nem indicação de intervenção no momento para salvar a sua vida;

c) De onde vem a estatística que ela corria o risco de 90% de morte ou de qualquer outra %? Estatística deve ser registrada em trabalho médico de pesquisa e com amostragem significativa para ter valor;

d) Haveria possibilidade que tivesse parto prematuro ou até aborto - mas, quando espontâneo, o processo é mais simples e de menor risco;

e) Se levasse a gravidez pelo menos até 22 semanas, teríamos 15 a 20% de chance de sobrevivência para os gêmeos (mesmo que fosse 10% de chance - estaríamos tentando salvar as crianças sem aumento de risco para a mãezinha);

f) psicologicamente, esta menina foi usada como um trapo pelo homem, destruída como pessoa, percebendo-se marcada inconscientemente como algo sem valor - e por 3 longos anos. Ao experimentar a destruição dos filhos como lixo, o inconsciente registra - “viu, sou lixo e de mim só pode sair lixo”. Sabe-se lá como se fará para recuperar todo esse novelo em sua cabecinha. Por outro lado, imagine-se: ela sentindo-se rodeada por atenção, amor, cuidado e experimentado a valorização das crianças que trazia dentro de si - mesmo que a análise racional não fosse predominante - poderia estar começando aí o seu resgate como pessoa integral;

g) sei de meninas que deram a luz com 10 anos e continuam muito bem após anos e anos;

h) Não sei de ninguém que morreu por causa da idade precoce com que engravidou, se recebeu acompanhamento adequado.”


Dra. Elizabeth Kipman Cerqueira

Médica ginecologista-Obstétrica; integrante da Comissão de Ética e Coordenadora do Depto. de Bioética do Hospital São Francisco, em Jacareí, São Paulo, Diretora do Centro Interdisciplinar de Bioética da Associação “Casa Fonte da Vida” ; especialista em Logoterapia e Logoteoria aplicada à Educação.

2. O Estado cínico

Dr. Cláudio Fonteles -Ex-Procurador Geral da República:


A discussão sobre o aborto assume grande relevo porque necessariamente diz com o tipo de sociedade em que almejamos viver: a sociedade amorosa, fraterna, solidária ou a sociedade do egoísmo, do abandono, da violência. E, porque a discussão é assim posta, assim devendo ser, efetivamente, o Estado, como a sociedade politicamente organizada, tem que enfrentar a questão e não, cinicamente, reduzi-la à esfera de opção individual.

A mulher e o embrião, ou o feto, se já alcançado estágio posterior na gestação, que está em seu ventre, são as grandes vítimas do cinismo estatal.

A mulher porque ou por todos abandonada – seu homem, sua família, seus amigos – ou porque, e o que é pior por assim caracterizar um estado de coisas, teme venha a ser abandonada pelo homem, pela família, pelos amigos.

A mulher porque incentivada, e estimulada, pela propaganda oficial e privada a desfazer-se da vida, presente em seu ser, como se a vida fosse um estorvo, um empecilho, um obstáculo que deve ser eliminado em nome, hipocritamente do direito à liberdade de escolha.

Não há liberdade de escolha quando a escolha é matar o indefeso.

O embrião, ou o feto, porque vida em gestação, mas, repito, vida-presente não se lhes permite a interação amorosa, já plenamente, ainda que no espaço intra-uterino, com sua mãe, e com os demais, caso esses não adotem a covarde conduta do abandono da mulher.

O Estado brasileiro consolidou em seu ordenamento jurídico “mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher”, editando a lei nº. 11.340/06, conhecida como a lei “Maria da Penha”.

Vamos ler alguns artigos dessa importante lei:

- “Poderá o Juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas: encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento (art. 23, I);

- Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de outras atribuições, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, quando necessário: fiscalizar os estabelecimentos públicos e particulares de atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as medidas administrativas ou judiciais cabíveis no tocante a quaisquer irregularidades constatadas (art. 26, II);

- A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão criar e promover, no limite das respectivas competências: centros de atendimento integral e multidisciplinar para mulheres e respectivos dependentes em situação de violência doméstica e familiar; casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores em situação de violência doméstica e familiar; programas e campanhas de enfrentamento da violência doméstica e familiar (art. 35, I, II e IV)”

Ora, se assim o é, justamente para que a integridade física da mulher seja protegida, por que, cinicamente, o Estado brasileiro detém-se aqui e, em relação à mulher, que está grávida, que acolhe em si a vida, estimula-a a matar, também a abandonando?

Por que o Estado brasileiro, repito cínico, pela omissão e pela frouxa, errônea e irresponsável justificativa de inserir-se o tema na órbita privada, não tira, como tirou o tema da violência doméstica, portanto também privada, dessa estrita órbita e à mulher gestante não lhe oferece todos os mecanismos oferecidos à mulher fisicamente agredida, para que, assim claramente amparada a mulher, em ambas as situações tenha o direito de viver e fazer viver a vida que consigo traz?

Aguarda-se o governante municipal, estadual e federal que tenha coragem de defender a vida-mulher e a vida-embrião, ou a vida-feto, que a Primeira acolhe em seu ventre.


Dr. Cláudio Fonteles -Ex-Procurador Geral da República

“Eu acredito que o ateísmo é a mais irracional das escolhas”.
(Dr. Francis Collins, médico, químico e biólogo americano, Diretor do Projeto Genoma).

segunda-feira, 2 de março de 2009

Psiquiatra denuncia crescimento do satanismo

Publicamos recentemente uma pequena análise sobre o tema acima, (Veja
Link
Nossa postagem de 10.10.2008), a qual causou reação incômoda de pelo menos um internauta, conforme pode se ver nos comentários feitos naquela ocasião. Agora surge uma autoridade de peso que confere com nossas observações: há um acentuado crescimento do satanismo, especialmente sob a influência da mídia eletrônica. Vejam o texto da entrevista dada pelo psiquiatra italiano Tonino Cantelmi publicada pela Zenit:

Entre patologia psiquiátrica e satanismo cultural (I)


Entrevista com o presidente da Associação Italiana de Psicólogos e Psiquiatras Católicos

Por Mirko Testa

ROMA, domingo, 1 de março de 2009 (ZENIT.org).- Nos dias de hoje, entre as diversas formas de desvio juvenil, assistimos à expansão do fenômeno do satanismo cultural, cada vez mais preocupante, com a cumplicidade da fácil disponibilidade de conteúdos esotéricos na internet e a falta de valores fortes na família.

Quem está convencido disso é o Dr. Tonino Cantelmi, psiquiatra e presidente da Associação Italiana de Psicólogos e Psiquiatras Católicos (www.aippc.net), coautor, com a psicoterapeuta Cristina Cacace, de «O livro negro do satanismo» («Il libro nero del satanismo», editora San Paolo), que fala de uma verdadeira invasão dos convites à cultura satânica através de livros, revistas, mas sobretudo blogs e cinema.

Cantelmi alerta em concreto sobre os novos dramáticos cenários que esperam o homem na próxima década, e que não serão já paraísos opiláceos, mas temáticos: Second Life, salas de bate-papo, internet, facebook etc. projetam uma perspectiva de humanidade deprimida, mais compulsiva.

Nesta entrevista concedida à Zenit, Cantelmi explora o limiar entre possessões demoníacas e psicopatologias.

Nossa sociedade hipertecnológica está de verdade tão fascinada pelo satanismo?

– Cantelmi: A verdadeira questão é: nós nos encontramos diante de cruéis aduladores de Satanás ou frágeis filhos dos tempos atuais? Segundo nossos cálculos, na Itália há cerca de 5 mil pessoas que são afetadas diretamente por um tema satânico, mas estamos assistindo a um satanismo cultural e ao desenvolvimento de um satanismo ateu, no qual Satanás é a ocasião para um ulterior encobrimento, é uma evolução.

Se até pouco tempo atrás o satanismo se escondia por trás das sombras das cidades ou nos povoados, hoje, em rede, o satanismo adquiriu pleno direito de cidadania: converteu-se em um produto de consumo.

Nossos jovens são atraídos por uma série de crenças, seitas, religiões diferentes. Na amostragem examinada, 76% dos casos se interessam por magia, cartomancia, ritualismo, iniciação, esoterismo, enquanto o contato com material satânico é facílimo em 78% dos casos, sobretudo através da música, cinema, livros e internet.

Respondendo a perguntas mais específicas, mais da metade dos jovens confessa que tem curiosidade pelo satanismo; 1 de cada 3 jovens declara sentir-se atraído; 10% diz que se Satanás lhe assegurasse a felicidade, não teria dificuldade em segui-lo, sinal este de infelicidade e do sofrimento que há no mundo atual. Uma frase muito difundida na rede, em todas as páginas introdutórias de sites satânicos, é de John Milton, extraída de «Paraíso Perdido»: «Melhor ser soberanos no inferno do que servos no paraíso».

– Pode-se falar por um lado de fenômenos sobrenaturais e por outro de patologias psiquiátricas? Existe uma área nebulosa na qual estes elementos se confundem?

– Cantelmi: Em um estudo levado a cabo entre 10 pessoas, entre as quais – segundo exorcistas – havia certamente fenômenos sobrenaturais, emergiram também problemas psiquiátricos. A tarefa se complica muitíssimo se o problema é distinguir entre pessoas que sofrem doenças psiquiátricas e as que vivem experiências sobrenaturais. Lamentavelmente, a fragilidade psíquica é um forma de entrada extraordinária de sofrimento de todo tipo.

Isso indica que psiquiatras e exorcistas devem colaborar uns com os outros. Muitos psiquiatras são indiferentes, relegam o mundo do exorcismo ao da superstição; a psiquiatria e a psicologia são ciências relativamente jovens que tiveram de lutar para definir seus próprios estatutos epistemológicos e que têm muitas áreas fronteiriças. Só estabelecer o que é normal e o que é patológico já exige contribuições da antropologia e da filosofia. Freud, que para nós é como pré-histórico, categoriza o fenômeno religioso dentro dos problemas neuróticos: tende a não ver consistência neles, realidade; tende a ver seu aspecto de vivência neurótica. Precisamente neste momento estou denunciando a discriminação que os pacientes crentes sofrem nas psicoterapias, porque seus valores são com frequência ridicularizados por muitos terapeutas ou, na maioria das vezes, ignorados.

Em 1999, fundamos a Associação Italiana de Psicólogos e Psiquiatras Católicos com o objetivo de ajudar a psicologia e a psiquiatria a dialogarem com outras ciências, com a antropologia e com a teologia, convencidos de que uma psicologia honesta pode enriquecer-se com contribuições diferentes.

Uma coisa que é preciso combater são os sincretismos, ou seja, os «psicossantos», os psiquiatras, os psicólogos que abençoam, que rezam com seus pacientes. O psiquiatra deve ser psiquiatra!

Penso também que nós, os psiquiatras, não podemos explicar toda a realidade humana. Descobri que os exorcistas são pessoas muito avançadas. Conseguem detectar o sofrimento psíquico e encaminhar com confiança seus pacientes ao tratamento do psiquiatra. Os exorcistas estão absolutamente abertos à contribuição dos psiquiatras.

– Que tipo de problemas psíquicos a possessão demoníaca pode simular?

– Cantelmi: Entrando no específico da psiquiatria, abrem-se diante de nós dois grandes âmbitos: o delírio e as alucinações. Chamamos de delírio o transtorno do pensamento, enquanto as alucinações são um transtorno das percepções: são dois elementos patológicos do ponto de vista psíquico; o pensamento é um processo mental que comporta a manipulação de símbolos; e isso se dá através da formação de conceitos, de mecanismos de abstração, de generalização, do raciocínio, processos elaborados que usam regras para chegar a resultados concretos.

Os psiquiatras distinguem duas grandes áreas de sintomas no que se refere aos transtornos do pensamento: os de conteúdo, que se referem às ideias e empenham toda a área do delírio, e os formais, que se referem ao modo no qual estas ideias se unem.

Como se identifica o delírio? Antes de tudo, deve-se dizer que o delírio não muda, não pode se sobrepor à crítica, caracteriza-se por um conteúdo não coerente com a realidade. Há delírios facilmente detectáveis e outros, ao contrário, muito mais consistentes e dificilmente detectáveis.

O delírio pode ser excêntrico, privado de lógica, ou sistemático e, portanto, com uma lógica interna. O delírio pode ser de vários tipos: de influência, de referência, de perseguição, de grandeza, de ciúmes – o cônjuge é um traidor –, erotomaníaco – uma pessoa importante está apaixonada por mim –, hipocondríaco, somático – sinto que meu fígado é de cristal –, místico, de culpa, de ruína, niilismo – o paciente está convencido de que está morto.

O delírio é um sintoma de várias patologias, por exemplo, a excitação maníaca, e aqui as coisas se complicam, porque o paciente neste estado é um paciente inteligente, ativo, que talvez tenha um delírio de grandeza e que talvez tenha inclusive alucinações, vê coisas, ouve vozes, constrói uma realidade, articula-a e a explica bem. Pode ser convincente e pode ser muito difícil captar estes aspectos. Em um delírio de influência, o sujeito sente que em sua cabeça entram pensamentos, está convencido de ser tele-dirigido.

Grande parte dos delírios são de perseguição: o sujeito interpreta que alguns fatos estão contra ele. Outra característica é que este conteúdo é sempre interpretado como autorreferencial: passa um carro e toca a buzina: para mim, se estou delirando, é um sinal, confirma o que estou pensando, ou seja, refiro a mim mesmo uma série de experiências casuais.

Alguns delírios se escondem; há pessoas que deliram e guardam para si. Hoje, a sociedade competitiva desenvolve mais delírios de perseguição, de ameaça, de agressão, mas o ponto importante é que o delírio não está sozinho, e sim acompanhado de transtornos das percepções, que em geral confirmam o delírio. Por exemplo, no delírio de envenenamento (há alguém que está me envenenando), quando provo certo alimento, noto o sabor do veneno, tenho uma alucinação gustativa, percebo seu odor. Tive um paciente que derrubou uma parede porque tinha uma alucinação olfativa, cheirava a enxofre e estava convencido de que naquela parede estava o demônio.

As alucinações visíveis podem ser de dois tipos: vejo que Nossa Senhora aparece para mim, ou não a vejo, mas meu cérebro constrói uma imagem, tem alucinações olfativas, gustativas, visuais, táteis...

Os mais frequentes são os delírios auditivos, ou seja, quando ouço vozes que comentam minha atuação, que me ofendem, que me agridem, que não me deixam em paz, que me mandam fazer algo, vozes teológicas que me dão o sentido do que estou fazendo, vozes que interpretam os demais, vozes que indicam um comportamento. Então, posso sentir-me perseguido por uma pessoa, sinto que seu olhar está me dizendo muitas coisas, ouço que é uma voz de homem, é a voz de Deus.

Entre as perturbações do pensamento está também a mistura de palavras, o falar associando ideias e conceitos por assonância, sem nem sequer conhecer seu sentido. Na esquizofrenia, o sujeito inventa palavras, neologismos, fala com ritmo e parece que verdadeiramente fala outra língua, ainda não tendo nenhum conexão com outra língua.

Os transtornos formais do pensamento também podem ser positivos: o sujeito fala muito, de maneira detalhada; dá-se também o fenômeno da fuga das ideias, ou seja, a pessoa se bloqueia porque as palavras não conseguem já seguir seu pensamento, que é muito veloz. Ou a incapacidade de fazer associações mentais (o sujeito parte de um ponto e não chega nunca a dizer o que tem que dizer). Existe também a glossolalia, ou seja, a expressão de mensagens reveladoras, com palavras incompreensíveis, típico dos esquizofrênicos, quando o sujeito está convencido de ter um anúncio para a humanidade. Ou a ecolalia, ou seja, a impossibilidade de falar se não for repetindo o que outros dizem. Dá-se também um eco dos gestos, quando as pessoas não fazem outra coisa senão repetir os gestos que veem outros fazerem.

Há também os transtornos negativos, como o bloqueio das ideias: o sujeito responde sempre do mesmo modo, tem pobreza de expressão. O ponto álgido dos transtornos formais do pensamento é o transtorno obsessivo, que se caracteriza por pensamentos, impulsos, imagens que eu sinto como estranhas e tento afastar, mas sem conseguir, e para fazê-lo tenho de recorrer a ritos, compulsões. Tenho um paciente obsessivo que enquanto recita as Laudes pela manhã, começa a pensar em uma pessoa. O pensamento obsessivo, que é um pensamento inclusive mágico, se lhe insinua e lhe diz: «Aquela pessoa hoje morrerá», «sou responsável pela morte dessa pessoa», «se isso me acontece neste salmo, eu o repetirei nove vezes», pensa meu paciente.

Muitas pessoas obsessivas sentem com frequência o impulso de rir em um funeral e blasfemar em uma igreja. Na realidade, o paciente obsessivo nunca o faz, não cede, mas sofre por isso e o combate. Porque sua vida está feita de impulsos que são a cara comportamental das obsessões. A vida de um obsessivo se transformará com o tempo em uma vida terrível e dolorosa de compulsões. Desde sempre, este tipo de psique que Freud já definia como «parasita» penetrou na humanidade e desde sempre a obsessão foi considerada uma loucura lúcida, mas de grande sofrimento.